Três cidades amazônicas disputam uma vaga para sediar parte dos jogos da Copa de 2014. Rio Branco, no Acre, Belém, no Pará, e Manaus, no Amazonas, se desdobram para mostrar que possuem atrativos e infra-estrutura suficientes para garantir o sucesso de um evento desse porte.

Inspetores da FIFA estão em processo de visita às cidades – uma da Amazônia e outra do Pantanal – que completarão as 14 cidades sedes da Copa de 2014.

As três cidades amazônicas têm projetos com argumentos comuns e de certa forma contraditórios. Todas apelam para mostrar que sua Copa é Verde ou Sustentável. A contradição é que todos os três projetos não tratam do maior problema ambiental da Amazônia: os desmatamentos e as queimadas.

Ocorre que a Copa é em julho, um mês em que, como todo amazônida sabe bem, a população fica sem ver o céu por dias seguidos. A fumaça das queimadas impede a visibilidade atmosférica e, por isso, vários aeroportos são fechados por várias horas.

Aeroportos fechados não deixam que os aviões aterrissem e, assim, as pessoas, os esperados turistas que lotarão os hotéis e os restaurantes com seus esperados dólares, não vão poder chegar.

É em julho que a economia está aquecida na região. Após o período chuvoso, denominado de inverno amazônico – que vai até meados de abril -, as empresas e os produtores, sobretudo os rurais, entram em processo produtivo com determinação, pois têm apenas até outubro para produzir.

Os desmatamentos e as queimadas se intensificam tanto com o início da safra pecuária, quanto da florestal. Infelizmente, a triste consequência dessa produção é a degradação ambiental acelerada. A pecuária desmata e queima os pastos, produzindo tanta fumaça quanto São Paulo nas horas de rush.

A extração sem técnica (não manejada) de madeira também acarreta impactos que, embora bem inferiores aos da pecuária, empobrecem a diversidade biológica da floresta, tornando-as sujeitas aos incêndios florestais do tipo que queimou mais de 200 mil hectares na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, em 2005.

Para que a Copa de 2014 – ou seja, daqui a seis anos – acontecesse sem os percalços e a mancha vergonhosa dos desmatamentos e das queimadas, as cidades candidatas deveriam provar à FIFA que têm sob total controle as atividades produtivas danosas à floresta.

Mais que provar que possuem rede hoteleira ou proposta para construção de rede hoteleira, que consumirá elevados e proibitivos investimentos públicos e privados, as cidades deveriam se preocupar em apresentar ações que mitigassem a ocorrência dos efeitos nefastos dos desmatamentos e queimadas.

O frágil argumento do verde pelo verde, ou do sustentável pelo sustentável, usado porque talvez as cidades digam que irão reciclar o lixo ou construir ciclovias (ou outros bagrinhos desse tipo) se perderá no momento em que os turistas se depararem com a fumaça.

Para não queimar em 2014, as cidades precisam se planejar agora. Aquela que assumir a tolerância zero com o desmatamento e com a queimada poderá apresentar um diferencial bem mais forte que os discursos que pululam em out doors.

Com fumaça, o avião não pousa. Com fumaça, não é possível ver os jogadores da arquibancada. Com fumaça, o sucesso vai virar vergonha.

Com fumaça, a Copa de 2014 na Amazônia será apenas mais um factóide político.

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