A produção de cana-de-açucar, associada à famigerada pecuária bovina, põe em risco a sustentabilidade na Amazônia. A despeito de sua relativa importância econômica (em face das frágeis economias locais), essas atividades dependem do desmatamento e, na maioria das vezes, da queimada, para consolidar-se. São intensivas em insumos agrícolas e, o que é pior, em terras. Ou seja, dependem de grandes áreas para ganhar economia de escala.

O balanço final, após contraporem-se seus custos e benefícios, é negativo para a sociedade. Com um agravante importante – o prejuízo é maior no âmbito global, do que no âmbito local.

Essa desigualdade de impacto configura-se num significativo detalhe que pode, em curto prazo (como nos próximos cinco anos, por exemplo), inviabilizar a instalação de tais opções produtivas na Amazônia.

Ocorre que, como os danos são menores no lugar onde a atividade está sendo realizada, e o controle dos mesmos geralmente contraria interesses (dos aliados de toda a hora), as autoridades locais tendem a abster-se quanto à criação de mecanismos de regulação e monitoramento, que sujeitem a produção a critérios mínimos de sustentabilidade.

Em vista dessa (de certa forma) omissão no âmbito local, as discussões acerca das conseqüências danosas da expansão da cana-de-açucar e do capim, na maioria das vezes, são travadas fora da região.

Assim, as manifestações de preocupação com a (quase total) ausência de critérios objetivos e claros que minimizem os efeitos negativos ou – com mais rigor – que impeçam a instalação dessas atividades na região amazônica vêm sempre da esfera federal, ou mesmo internacional.

Exemplo recente, vindo de Brasília, reforça essa premissa. Trata-se das declarações efetuadas pelas Ministras do Meio Ambiente e da Casa Civil, no sentido de que a produção de cana-de-açucar em área de agricultura na Amazônia não será tolerada em hipótese alguma. Ou, valendo-se das objetivas palavras da Ministra da Casa Civil:

“Dizer que o governo (federal) é a favor do uso de terras da Amazônia para o plantio da cana-de-açúcar é um grande equívoco. O Brasil não precisa da Amazônia, nem de nenhuma área agricultável para produzir álcool”.

De outra banda, o Ministério Público do Acre, em atitude que merece aplausos da sociedade, e indo de encontro à premissa da omissão, ousou exigir maiores cuidados ambientais para a operação da empresa contraditoriamente denominada de Álcool Verde. Diante da reação chantagista, que ameaçou a demissão de 200 empregados e a mudança do empreendimento para outro estado, a ação da Promotoria de Meio Ambiente foi, além de acertada, muito corajosa.

A despeito das manifestações de apoio à usina de álcool, o fato é que a Promotoria de Meio Ambiente não está sozinha. Ao contrário, está muito bem acompanhada, tanto em Brasília (como demonstram as declarações das Ministras), quanto no mundo (como demonstram as declarações dos ganhadores do Nobel da Paz).

O mundo globalizado não vai comprar etanol oriundo da destruição do ecossistema florestal da Amazônia. Sendo assim, podem tirar o Álcool Verde daqui.

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