Petróleo pode ser melhor que álcool na Amazônia

O álcool tem sido apontado como alternativa energética prioritária ao petróleo. Principalmente quando o assunto é a queima em automóveis, o combustível extraído da cana-de-açúcar surge como opção estratégica para a era dos biocombustíveis, que vai substituir a era do petróleo, que, por mais que alguns neguem, tem data para acabar.

Com relação ao tema da prospecção de petróleo e gás na Amazônia, é possível, inclusive, que a Petrobrás esteja reavaliando suas antigas prospecções justamente por isso. A redução da oferta elevou os preços do petróleo a um patamar acima dos 60 dólares o barril. Esse preço aufere viabilidade econômica para jazidas jamais cogitadas quando os níveis de preço não ultrapassavam a casa dos U$ 30. O que, esclareça-se, ainda não quer dizer que haja possibilidade dessa condição de oferta e demanda ocorrer no Acre.

O assédio dos americanos para acessar a tecnologia de produção do etanol à base de cana é um exemplo concreto de que uma nova geopolítica internacional tende a se formar com a era dos biocombustíveis. Os argumentos estratégicos alegados pelo governo americano, que se resumem em sair da dependência do petróleo venezuelano e, claro, do temperamental Chavez, confundem-se com a eventual importância ambiental do álcool.

Um tanto sem graça, os americanos, que até hoje não assinaram o Protocolo de Kioto e, o que é mais grave, perderam ambiente político para rever sua posição, esforçam-se em demonstrar que o lado da sustentabilidade ambiental do álcool seria um ingrediente a mais na sua, já citada, importância estratégica.

No entanto, os responsáveis pela área ambiental da própria Organização das Nações Unidas já alertaram, em relatório oficial, que não é bem assim. A substituição do petróleo, que é o maior responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento global, por qualquer outro combustível é sempre bem vinda. Todavia, é possível que, do ponto de vista da sustentabilidade, o álcool seja a pior das alternativas.

Ocorre que, apesar de o álcool de certa maneira equilibrar a quantidade de fumaça, pois que lança carbono na atmosfera, ao ser queimado nos veículos, e retira, quando a cana cresce e assimila carbono, o seu ciclo produtivo é, por assim dizer, de elevadas e desastradas conseqüências ambientais.

Trata-se, afinal, de um produto do agronegócio – da mesma forma que a carne de gado, a soja, o algodão, o milho e outros -, que precisa ser produzido em elevadas escalas, com baixíssimos custos de produção por unidade de área. A cana-de-açúcar está para o álcool como a soja para o biodiesel. Não são produtos para a pequena agricultura ou para a agricultura familiar. Muito menos para serem produzidos sem altíssima tecnificação e mecanização.

Há dois únicos argumentos a que têm se apegado os defensores do agronegócio. O primeiro é o de que a produção do biocombustível não elevaria o preço da cana e da soja usada para a alimentação. O que contradiz os mais elementares princípios da economia.

O segundo é o de que os plantios seriam realizados em áreas erodidas, degradadas e abandonadas pela pecuária nefasta. Ou seja, seriam realizados nas áreas de capoeira, que são florestas em formação.

Capoeiras são áreas onde as árvores estão começando a se firmar e que se transformam em floresta secundária. Isto é, a valer o segundo argumento, o fim das capoeiras seria inevitável, o que significará, mais adiante, ampliação do desmatamento, o que ninguém no mundo tolera.

Pensando bem, talvez a Amazônia estivesse melhor com o petróleo.

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