Difícil imaginar um animal mais interessante para ter em casa do que o jabuti. Além de requerer o mínimo de trabalho e atenção do criador, o custo de manutenção de um jabuti é infinitamente inferior ao de outros animais domesticados – cachorros, aves e gatos, por exemplo.

Para quem dispõe de quintal, não há como não gostar de um animal dócil, que não causa o menor transtorno – e que vez ou outra nos faz uma visita carregando seu próprio teto. Trata-se de excelente companhia: não incomoda e está sempre lá, independente de ser ou não visto.

Rústico, forte e resistente, o jabuti é capaz de se adaptar, se não a todas, à maioria das condições climáticas presentes nas regiões geográficas brasileiras. Jabuti não adoece – ainda bem, pois é difícil encontrar veterinário com competência (adquirida nas universidades) para realizar o tratamento. É difícil mesmo encontrar informações sobre os correspondentes cuidados básicos.

E é aí que reside o dilema do jabuti. Com certeza, uma significativa parcela da sociedade tem interesse em conviver diariamente com esse pacato e impressionante animal, contudo, no Brasil existe um ambiente institucional incompreensivelmente hostil à criação de espécies nativas de nossa fauna silvestre.

Excetuando-se os serviços prestados em zoológicos e entidades afins, não se veem profissionais que ganhem dinheiro cuidando dos animais originários da Amazônia. E a despeito do potencial que alguns demonstram para servir como bicho de estimação (ou pet, no ingês universalizado), as pessoas são desmotivadas a mantê-los.

Sem dúvida o jabuti é um desses. Aquele jeitão pacífico e jurássico desperta o interesse de todos, especialmente das crianças. Elas não resistem à graça e delicadeza de um filhote de jabuti – que é quase uma miniatura de brinquedo, mas já totalmente independente.

Embora apresente grande potencialidade, o mercado de criação de jabutis não se viabiliza por razões que beiram a insanidade. Só mesmo nós, brasileiros, para chegarmos ao ponto de instituir regras que tornaram a criação e manejo de animais silvestres (sobretudo os amazônicos) uma atividade de risco – quando é sabido que esses animais despertam grande interesse nas pessoas, e em todos os lugares do mundo.

Sobre os argumentos insanos, são defendidos tanto por um grupo pequeno (mas obstinado) de ambientalistas ortodoxos quanto pelo aparato público-estatal. Em ambas as situações prevalece a pouca informação técnica, que leva à intransigência em relação a todo empreendimento que envolva animais silvestres e não se destine a distanciá-los das pessoas.

Uma das alegações é que esses animais podem transmitir novas doenças aos humanos – o que é insensato (para não dizer coisa pior), principalmente levando-se em conta que algumas espécies com as quais convivemos são vetoras de muitas doenças. É o caso dos pombos, que são adorados e infestam como praga as metrópoles, porém transmitem mais males que os ratos.

Argumenta-se ainda que a regulação do comércio de animais silvestres levaria à intensificação da caça e, por conseguinte, à extinção das espécies. Chega a ser ultrajante para quem tem um mínimo de bom senso. O mercado de animais silvestres para pet não vai fomentar a caça por uma simples razão: para o produtor, se o mercado fosse legalizado, seria muito mais barato criar os animais do que caçá-los.

A caça direcionada à venda clandestina nos centros urbanos, e que – isso sim! – pode levar ao risco de extinção no médio prazo, acontece hoje justamente porque existe um comércio ilegal. É claro que não seria esse o meio de abastecimento de um mercado regularmente estabelecido e que movimentaria cifras milionárias no mundo.

Uma coisa é certa: o sábio jabuti, que vive muito bem em ambiente doméstico, prefere a nossa companhia à dos predadores que habitam a floresta. É só perguntar.

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