Fazer com que as comunidades que vivem no interior da floresta, na Amazônia, tenham acesso ao recurso florestal – para produzir e ganhar dinheiro – pode até parecer algo banal. Afinal, os produtores, como se diz, têm a floresta na biqueira de casa. Mas, não é bem assim. Eles estão na floresta, mas não ganham nada com ela. Solucionar-se esse dilema não é tarefa fácil, e a questão tem envolvido considerável esforço técnico.

Afinal, muito embora a região seja rica em experimentos envolvendo recursos florestais e o seu respectivo manejo por alguma comunidade, nem sempre é possível fazer com que a produção tenha a perenidade necessária para resistir aos inúmeros percalços que surgem no cotidiano da atividade florestal na Amazônia.

Imposições não faltam, e todas, com pouquíssimas exceções, atravancam o manejo florestal praticado pelas comunidades amazônicas. São prescrições relacionadas às exigências normativas, quase sempre exageradas e ineficazes; às implicações de mercado, quase sempre insuperáveis pelas comunidades; aos preceitos ambientais, inalcançáveis e incompreensíveis para a realidade comunitária; e, por fim, às regras trabalhistas, infactíveis e impraticáveis.

O que ocorre, na verdade, é um grande paradoxo: a despeito da existência de um farto ecossistema florestal, com várias oportunidades de negócios; dum mercado que demanda pelos produtos, e duma massa trabalhadora que sabe, por tradição, manejar a floresta para ofertar os produtos que viram negócios, por incrível que pareça, nada acontece.

Com um ingrediente a mais. Na maioria das vezes – ainda que alguns desavisados e poucos afetos à realidade amazônica teimem em discordar disso – não existem problemas tecnológicos insuperáveis, ou de comprometida solução.

Melhor explicando: existe tecnologia disponível, compatível com a realidade das comunidades – em especial no que se refere ao esforço de trabalho e à capacidade de investimentos -, que possibilita a exploração dos recursos da biodiversidade amazônica de acordo com os ideais de sustentabilidade atualmente preconizados.

Mas, se é assim, surge o óbvio questionamento. Por que, então, as comunidades florestais amazônicas apresentam os piores índices de desenvolvimento humano, vivem em situação de permanente exclusão, e não conseguem superar os fatores limitantes de uma produção florestal manejada?

É este o paradoxo. Longe de seguir o caminho do manejo, as comunidades de manejadores florestais costumam adentrar no universo nebuloso – e sem volta – da pecuária extensiva para a criação de boi. Dessa forma, passam a exercer uma atividade para qual não estão preparadas, e cuja prática requer uma escala, sobretudo de terra desmatada, que, em geral, não poderão dispor. Nem hoje, nem num futuro próximo.

Enfim, o produtor amazônida não consegue se inserir ou se manter na atividade florestal, por razões difíceis de ser diagnosticadas – mas que seguramente não dizem respeito à disponibilidade de recurso florestal, de trabalho, de investimento, ou de tecnologia.

Ele é impedido por forças alheias ao tripé da produção preconizado pela economia. Uma mistura inusitada de preconceito (tanto em relação manejador florestal, quanto em relação ao uso da biodiversidade), e de ausência de bom senso – a qual, diga-se, não garante a manutenção das espécies, tampouco possibilita o seu uso econômico, o que, por sua vez, poderia trazer alguma esperança para a conservação da floresta.

Fomentar-se o Manejo Florestal Comunitário, para a exploração do potencial econômico da biodiversidade, é o melhor caminho; e a Ciência, sobretudo aquela praticada na própria Amazônia, já comprovou isso.

Uma única certeza: a culpa, diante das dificuldades enfrentadas pela produção florestal comunitária não está da floresta, mas, sim, no que acontece fora dela.

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