Embora desprezada pela imprensa brasileira, a greve de um dia organizada em mais de 100 países, inclusive no Brasil, por adolescentes que faltaram à aula em 15 de março último, no intuito de chamar a atenção para a grande questão do nosso tempo, as mudanças climáticas, representa um raio de esperança em relação ao futuro do planeta.

A iniciativa teve origem na Suécia, quando Greta Thunberg, de 16 anos, filha de uma famosa cantora de ópera, em agosto de 2018 começou a realizar um protesto solitário em frente ao parlamento sueco – sempre às sextas-feiras.

Daí surgiu a hastag #FridaysForFuture, ou Sextas para o Futuro, que rapidamente recebeu adesões mundo afora. Até chegar à greve de 15 de março, quando centenas de estudantes tomaram as praças de cidades pelo planeta, a mobilização em defesa do clima se organizou num coletivo internacional batizado de “Juventude pelo Clima”.

Defendendo uma pauta bastante objetiva, os jovens não se voltam genericamente contra problemas como falta de emprego ou terrorismo nas escolas – o propósito único se resume a reivindicar que os países cumpram o que prometeram perante o Acordo de Paris.

Numa carta aberta divulgada em 7 de março, o movimento declara expressamente sua decepção com as gerações que falharam em solucionar a crise decorrente do aquecimento do planeta, e proclama:

“Nós, os jovens, começamos a nos mobilizar. Nós vamos mudar o destino da humanidade, quer você goste ou não. Unidos vamos nos levantar no dia 15 de março e muitas vezes mais, até vermos a justiça climática. Exigimos que os tomadores de decisão do mundo assumam a responsabilidade e resolvam essa crise ou renunciem.”

Para quem não sabe, o Acordo de Paris decorre do processo de negociação mundial para detalhamento da Convenção do Clima, assinada durante a Rio 92 por 195 países associados ao sistema Nações Unidas, que reconheceram as alterações acarretadas ao clima da Terra pelas atividades humanas que lançam gases de efeito estufa na atmosfera.

A despeito da urgência inerente ao tema, o processo de discussão desencadeado pela ONU, nos últimos 27 anos, se mostrou lento e genérico, tendo sofrido retrocessos preocupantes.

Um primeiro ajuste estipulando metas para a redução das emissões de carbono na atmosfera (leia-se: fumaça) passou a vigorar em 2005, mas sem a participação dos americanos. Intitulado “Protocolo de Quioto”, em homenagem à cidade onde foi celebrado, o instrumento não imputava sanções aos países que não obedecessem ao pactuado.

O relativo fracasso do Protocolo de Quioto levou à aprovação de um novo pacto global pelo clima, assinado em 2015, em Paris – e que é considerado o mais relevante tratado direcionado ao estabelecimento de medidas mitigadoras do aquecimento global.

Ao invés de impor metas de redução de emissões a serem cumpridas pelos países, o Acordo de Paris adotou o sistema de iniciativas nacionais (INDC, na sigla em inglês), pelo qual cada país definiu seus próprios objetivos.

Os brasileiros se comprometeram a zerar o desmatamento ilegal até 2030; ampliar a quantidade de energia elétrica gerada por fontes limpas como hidrelétricas; e recuperar 12 milhões de hectares de mata ciliar e terra degradada.

É aí que entra o coletivo juvenil e a greve das sextas-feiras – para exigir que os signatários do Acordo de Paris concretizem os compromissos assumidos.

A geração que vai sentir os gravíssimos efeitos advindos da crise ecológica, apesar de não a ter causado, começa a tomar voz e exigir seu direito a um futuro sem “medo e devastação”.

 

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