Considerado um dos principais vértices da teoria do Triangulo de Governo elaborada, ainda na década de 1970, pelo economista chileno Carlos Matus, o Projeto de Governo funcionaria como aglutinador de atores sociais e agentes econômicos em torno de um alicerce e de uma estratégia para o futuro dos acreanos.

Isto é, na condição de primeiro vértice do triangulo o Projeto de Governo expressa um modelo de ocupação e de crescimento para a economia estadual que os governantes atuais e os que vierem depois devem consolidar para evitar descontinuidade e garantir o desenvolvimento gradual, mas permanente da região.

Uma condição essencial ao Projeto de Governo é que seja explícito o suficiente para responder perguntas consideradas chave, o que o Projeto Florestania, definitivamente, escorregou de fazer.

Acontece que nos últimos 30 anos no Acre, o Projeto Florestania traduziu uma ideia de futuro almejado para a sociedade acreana, no qual seria possível obter crescimento econômico com a consequente elevação do IDH, sem que com isso se comprometesse a sustentabilidade ecológica no Acre e, por óbvio, na Amazônia.

Mas, convenhamos, essa ideia força também é vendida pelo insustentável agronegócio da pecuária extensiva.

Nem precisa muita familiaridade com essa terminologia para perceber que nesse nível de generalização não há qualquer novidade. Claro que o projeto precisava ir além dessa vulgarização e ser mais específico, porém como diz o adágio popular “é no detalhe que mora o diabo”.

Desde o final dos primeiros quatros anos da hegemonia política que duraria vinte, era possível pressentir fraturas no Projeto Florestania que, com todo risco que a sintetização acarreta, podem ser reunidas nas seguintes três perguntas:

1 – Qual o limite de desmatamento seria permitido aos pecuaristas, para ampliar a criação extensiva de gado, até que a consequente destruição da floresta sacrificasse a sustentabilidade ecológica de todo Acre?

2 – Qual a participação da industrialização de toras de madeira exploradas com tecnologia de manejo florestal na composição do PIB estadual, gerando emprego e renda de maneira permanente todos os anos e mantendo a floresta em pé? e, o mais importante,

3 – De que maneira o potencial econômico da biodiversidade florestal poderia ser explorado com o propósito de se tornar, no olhar de fora, a marca da identidade do Acre e, no olhar de dentro, um dos principais componentes do PIB estadual?

Responder a essas perguntas, como se percebeu cedo, nunca foi prioridade para os líderes políticos do Projeto Florestania.

Pelo contrário, ao enxergar que a sustentabilidade ecológica dependeria da imposição de rigorosos impasses ao crescimento do plantel de gado existente na pequena e grande propriedade, limites por sinal bem menores que aqueles previstos no Código Florestal aprovado somente em 2012, ninguém topou o risco de perder o suposto poder político vindo dos pecuaristas.

Não à toa, em várias propriedades nos oito municípios localizados no vale do rio Acre, região considerada de maior potencial para o agronegócio do gado no Acre, o limite legal para cultivo de capim havia sido ultrapassado bem antes, no início da década de 1990.

Explicando melhor o Projeto Florestania se mostrou viável do ponto de vista eleitoral em 1999, graças à decadência econômica ocasionada pela pecuária extensiva e à exposição na imprensa da tragédia representada pelas recorrentes taxas anuais de destruição da floresta.

Claro que uma nova geração de lideranças, apesar de poucos com carisma reconhecido pelo eleitor, contribuiu para impregnar o imaginário dos acreanos. De um lado os caras novos na política e de outro a expectativa de um crescimento econômico sem desmatamento foi o oásis prometido pelo Projeto Florestania.

Contudo, acendendo uma vela para um e para o outro, tentando agradar aqueles que defendiam a exploração da fauna silvestre, da copaíba, das sementes e de outros produtos da biodiversidade florestal, sem desagradar os que preferiam o desmatamento da pecuária extensiva, o Projeto Florestania perdeu-se em suas próprias contradições.

Mas isso, já é outro artigo.

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