Capacidade de Governo é um dos vértices do Triangulo de Governo, que somado ao Projeto de Governo e à Governabilidade formam o tripé de sustentação de uma administração por um ou mais mandatos.

Para o economista chileno Carlos Matus, mentor da teoria do Triangulo de Governo na década de 1970, quando o tripé funciona o Presidente, Governador ou Prefeito terá sucesso, quando não, fracasso.

A experiência única do Projeto Florestania, vivenciada durante 20 anos pelos acreanos, a despeito de seu estudo ter sido até hoje negligenciado pelos historiadores e cientistas políticos, representa excelente fonte de análise ao mostrar com clareza o momento inicial, do sucesso em 1998, e o final, do fracasso em 2018.   

Melhor ainda, pesquisar os detalhes dos últimos 25 anos da história política do Acre, tendo por referência a teoria do Triangulo de Governo, ajudará a entender as causas para que o período de grande otimismo, observado sobretudo no início da década de 2000, desse lugar ao desmedido pessimismo após 2008.     

Ocorre que diante da subjetividade e generalização assumida no Projeto Florestania, caberia à equipe técnica que foi incorporada ao conjunto do funcionalismo público por meio de nomeações para cargos de gerenciamento, conduzir o desafio de viabilizar o Florestania.

Contudo, a experiência mostrou que a operacionalização do Florestania não dependia somente da capacidade dos técnicos que atuavam nos órgãos públicos.

Sua complexidade exigia suporte incondicional dos líderes políticos, de maneira a adequar a expectativa que cada ator social e agente econômico cultivava em relação ao rumo do Florestania.

Explicando melhor. Tendo em vista que todo território acreano no primórdio da ocupação econômica se encontrava 100% coberto por floresta, não precisa pensar muito para entender que defender a pecuária extensiva, ou qualquer outra opção inserida no agronegócio, também significa aceitar o desmatamento.

Como todos estão cansados de saber, não há meias palavras, almoço grátis ou criação de boi solto no pasto no Acre sem destruição da biodiversidade florestal.

Assim, em que pese a omissão do Projeto Florestania em decidir por um ou outro caminho, posto que, como afirmado antes, os líderes políticos adotaram por regra abraçar o desenvolvimento pela floresta sem, contudo, desapontar os pecuaristas, a Capacidade de Governo pendeu para um e outro lado, conforme o pensamento majoritário em cada instituição e de cada gestor.

À deriva, sem orientação política superior os gestores e a equipe técnica executavam tarefas sob demanda e com rumo desconhecido.

Entretanto havia uma realidade objetiva, como gostam os sociólogos, que os envolvidos no Florestania, de maneira discreta ou às claras sabiam ser crucial.

Afinal existe considerável consenso científico de que a exploração da biodiversidade florestal superaria a estagnação econômica trazida pela pecuária extensiva e que se arrastava desde a década de 1960 até o novo século, pós ano 2000.

Em síntese, ninguém poderia negar que foi a biodiversidade florestal, uma vocação produtiva natural do Acre, que deu origem ao Projeto Florestania e não a necessidade de se fazer o contraponto ao agronegócio de baixa produtividade da pecuária extensiva, à época desacreditado.

Por óbvio, a condução de um processo técnico e político dessa magnitude e complexidade, demandaria contratar profissionais com qualificação e experiência para conduzir a transição de uma economia baseada no boi solto no pasto, estagnada há mais de 30 anos, para uma nova economia ancorada na biodiversidade florestal.

Todo profissional envolvido com setor produtivo entende as dificuldades para selecionar, treinar e fazer funcionar uma equipe de profissionais com especializações diversas em uma indústria, num supermercado e até mesmo numa padaria.

Agora imagine conseguir reunir vários peritos, alguns estreantes no serviço público com o propósito de, num período de quatro anos, consolidar uma Capacidade de Governo para atender cobranças imediatas por educação e saúde, enquanto colocavam em pratica as demandas novas, inventadas pelo Projeto Florestania.

Mas isso é outro artigo.

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