Comemora-se, com certa dose de razão, a nova taxa de desmatamento na Amazônia, publicada pelo Instituto de Pesquisas Espaciais, Inpe. No período compreendido entre julho de 2008 até agosto de 2009, um total de 7.008 Km2 de florestas foi destruído em toda região amazônica.

Não que seja pouco, muito pelo contrário, mas significa metade do que ocorreu no período anterior 2007/2008, quando o tamanho da área anualmente desmatada teimava em estacionar na casa dos 14.000 Km2. Mais que isso, trata-se da menor taxa nos 21 anos, nos quais se iniciou a medição.

É um avanço, sem dúvida, mas a euforia deveria ser mais contida. Primeiro por se configurar em uma dimensão elevada e absurda de destruição, afinal 7.008 Km2 é uma área maior que a de muitos países europeus. Segundo porque a discussão atual, às vésperas de uma reunião decisiva sobre clima, como a de Copenhague, é de quanto tempo será necessário para zerar o desmatamento.

Além de conter a euforia desmedida, há, contudo, que se analisar com mais rigor as razões pelas quais se obteve essa menor taxa. Dirigentes públicos se apressam em creditar à fiscalização e às ações de governo, segundo eles mais enérgicas, que vem se intensificando e, por isso, coibindo com mais eficiência o desmatamento.

Argumento difícil de comprovar tendo em vista que o aparato público de repressão não se alterou em nada nesse período. Não se contratou mais fiscal e nem se adquiriu as onerosas toyotas equipadas com aqueles cupinzeiros que poucos sabem usar. Finalmente, também não se deixou de praticar os contingenciamentos orçamentários sofridos anualmente pela esfera ambiental de governo.

Outra causa, para explicar a menor taxa de desmatamento da história remete ao óbvio, e que, atualmente, costuma servir de razão para tudo: a crise financeira. Por esse raciocínio vai-se do calote imobiliário americano ao custo das operações de desmatamento bem rápido.

Tanto os fiscais quanto a crise podem, realmente, ter dado sua parcela de contribuição, mas há ainda, um dado geralmente esquecido: o fim do desmatamento legal. Ocorre que nas áreas de maior concentração do desmatamento, em sua grandíssima maioria, já se extrapolou os 20% de desmatamento em área privada, permitidos por Lei. Significa que todo desmatamento ali é ilegal.

Uma análise grosseira do percentual de redução em cada Estado da Amazônia corrobora a teoria do término de áreas para o desmatamento legal. A maior redução ocorreu no Mato Grosso, onde a taxa de desmatamento despencou em 65%; seguido de Rondônia, com queda de 50%; no Pará, de 35%; no Amazonas, de 30%; no Maranhão, de 20%; e, por fim, no Acre, com 18% menos.

Note-se que a maior redução na taxa de desmatamento ocorreu no Mato Grosso, que disputa com o Para, todos os anos, o titulo de maior destruidor de florestas. E, por outro lado, a menor redução ocorreu no Acre, que costuma ostentar o título de Estado que menos desmata.

Proporcionalmente o Acre foi o que mais desmatou. Como explicar isso?

Somente pela teoria da oferta de terras para o desmatamento legal.

Recentemente, com a aprovação da Lei que instituiu o Zoneamento Econômico-ecológico, a pecuária recebeu um ativo de mais de 3 milhões de hectares de novas áreas para desmatar. Resultado da redução de 80% para 50% da área de Reserva Legal da propriedade privada.

E o efeito perverso dessa decisão, ainda esta longe de terminar.

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