A geração de energia, seja a elétrica ou a queimada em motores à combustão, tem sido apontada como um dos principais agentes da concentração de dióxido de carbono (leia-se fumaça) na atmosfera – ou seja, do gás que comprovadamente causa aquecimento do planeta e os já triviais desequilíbrios climáticos.
A pesquisa por fontes alternativas à geração de energia baseada em combustíveis fósseis intensivos em carbono – o caso do petróleo – tem mobilizado um número expressivo de pesquisadores mundo afora. Em época de economia de baixo carbono, a solução energética transformou-se em estratégia para garantir-se a sustentabilidade num futuro cada vez mais próximo.
Desnecessário dizer que, numa região como a Amazônia, de elevada importância ecológica, e cujo processo de ocupação social-produtiva se intensifica ano após ano, o tipo de energia a ser ofertada seguramente será o principal diferencial de competitividade regional.
Por isso, a discussão acerca da fonte de energia que melhor se ajustaria aos ideais de sustentabilidade atualmente preconizados para a Amazônia requer, antes de tudo, a participação dos atores sociais e agentes econômicos que vivem e operam no cotidiano da região.
E aí, há uma primeira constatação a ser feita. É que, diferentemente do que ocorre hoje em dia, tudo indica que as fontes de energia limpa não serão as mesmas para motores e geração elétrica. Atualmente, tanto os motores que carregam cargas e pessoas, quanto os que movimentam as termoelétricas, funcionam à base de óleo diesel ou petróleo; todavia, no caso das energias limpas, uma diversificação da matriz energética se impõe.
Ocorre que enquanto nos motores à combustão – que fazem rodar os caminhões e navegar as numerosas embarcações que cruzam os rios amazônicos – o petróleo pode ser substituído por um óleo de origem vegetal (de preferência produzido com alguma espécie florestal amazônica), a geração de energia elétrica caminha para o aproveitamento do potencial hidrológico da região.
O uso de óleo florestal (excluamos a soja) nos motores tipo rabeta, por exemplo, traria ganhos admiráveis, mediante a redução da degradação da água dos rios. A quantidade de óleo diesel derramado nos rios, contando somente as operações de abastecimento dos barcos, é de assustar.
A cada hora, em média, todos os motores rabeta em funcionamento na região – que somam centenas de milhares – precisam ser reabastecidos; dadas as condições precárias em que o abastecimento acontece, em plena navegação, isso significa o derramamento de quantidade incalculável de óleo nos rios.
As operações de manutenção desses motores – que envolvem troca de óleo lubrificante, que também poderia ser substituído por óleo de origem florestal – não são diferentes; comumente, o óleo queimado retirado do motor vai parar no rio.
A geração de energia elétrica, por outro lado, tende a substituir as sujas termoelétricas à diesel pelas limpas hidroelétricas. Em que pese as controvérsias sempre ocasionadas pela construção de barragens nos rios – como a que vem acontecendo em Belo Monte, no Pará -, existe uma determinação pública, corroborada, diga-se, em âmbito internacional, pela ampliação da participação dos rios na geração de energia elétrica, sobretudo na Amazônia.
O fato é que, diante do pouco potencial amazônico para a geração de energia solar (em razão da intensa nebulosidade que ocorre na região), e eólica (em razão da inexistência de ventos), a energia baseada na água surge como promissora.
Todavia, e ainda que se trate de uma fonte limpa, é indiscutível que a instalação de hidroelétricas exige muita discussão pública.