Todas as vezes que uma espécie, vegetal ou animal, presente no ecossistema florestal amazônico adquiriu importância elevada de mercado, os pesquisadores e técnicos que atuavam com a espécie, tentaram e, na maioria das vezes conseguiram, sua adaptação em cultivos comerciais, por meio de um processo de domesticação que geralmente exige investimentos públicos elevados.

O argumento principal é de que a extração, sobretudo sob o modo extrativista de produção, ou coleta do produto no interior da floresta apresenta custos elevados, tem baixa produtividade e encontra limitações de oferta.

Isto é a floresta, certamente devido a existência de um equilíbrio complexo entre a diversidade biológica existente, apresenta um número de árvores por hectare difícil de ser alterado, independente do crescimento da demanda comercial pelo produto extrativo.

No jargão econômico trata-se de inelasticidade de oferta. O que significa uma rigidez na quantidade total possível de ser extraída da floresta, alterada somente com a incorporação de novas áreas de florestas ao ciclo produtivo.

Não foi outra a razão para que no auge do ciclo de produção de borracha, nos idos de 1890, a busca pela abertura de novos seringais era frenética. O resultado foi sua domesticação na Malásia, cuja transferência de mudas de seringueira, realizada sob acordos comerciais vigentes à época, até hoje suscita arraigados sentimentos nacionalistas contra um saque que não existiu.

O exemplo da borracha é importante para análise devido ao pioneirismo e a dimensão da tragédia econômica que a domesticação causou à Amazônia. O problema reside na domesticação e não na Malásia ou na Inglaterra. O Brasil também conseguiu, com exímia eficiência, domesticar a seringueira e sua completa adaptação à região Sudeste. O resultado é que desde 1992 São Paulo é recordista nacional na produção de borracha cultivada. Produz mais borracha que toda a Amazônia.

Outros exemplos também são sintomáticos, apesar de nenhum outro produto florestal ter se aproximado em importância da borracha.

A domesticação levou da Amazônia o cacau, o cupuaçu, a pupunha e, mais recentemente, a pimenta longa. Todas, sem exceção, essas espécies foram descobertas no interior da floresta, domesticadas com recursos e esforços dos próprios amazônidas e atualmente, são produzidas fora da região.

Ocorre que, por um conjunto variado de razões, que vai da dificuldade de se estabelecer na região uma agropecuária com níveis adequados de tecnologia, passando pela falta de tradição do produtor e chegando até às limitações ecológicas relacionadas à ocorrência de pragas que não existem em outras regiões, a domesticação não vinga na Amazônia e, no curto prazo, prejudica a dinâmica econômica local.

A resposta então estaria em uma alteração profunda no jeito de se encarar o processo produtivo relacionado à biodiversidade da Amazônia.

Uma alteração que deveria acatar, sem reclamar, como um dogma, que a oferta de produtos florestais amazônicos podem se realizar somente, por meio da tecnologia do Manejo Florestal de Uso Múltiplo, cujos níveis de produtividade, nunca, mas nunca, se compararão com os dos cultivos domesticados.

Aceito esse dogma da produção florestal, o esforço técnico e científico deveria se voltar à melhoria diária das técnicas de manejo, com o desenvolvimento de inovações em logística, extração, beneficiamento e assim por diante.

Com o fantasma da domesticação estirpado a criatividade dos amazônidas encontraria solução para melhoria do Manejo Florestal de Uso Múltiplo.

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