Há mais de 20 anos, a ciência florestal praticada na Amazônia se concentra no esforço de gerar conhecimentos e inovações tecnológicas que favoreçam o uso sustentável da imensa diversidade biológica existente na região.
Um desafio sem precedentes que, além de exigir a concepção de uma inovação tecnológica complexa e extensa, encontra resistências variadas de cunho ideológico, religioso e até espiritualista.
Ocorre que ao se concentrar no uso sustentável, o mesmo que conservação da floresta, a ciência florestal precisa desenvolver metodologias para explorar cada recurso florestal, que pode ser, por exemplo, uma árvore milenar, como a castanheira, ou um animal silvestre, como o papagaio.
Tanto no primeiro, como no segundo caso, as resistências serão bem maiores se a árvore ou o papagaio tivessem que ser abatidos, tanto para aproveitamento da madeira quanto para alimentação. Felizmente, nesses dois casos, são aproveitadas as sementes da castanheira e a agradável companhia do papagaio e nada precisa morrer.
Para vencer essas resistências, ainda na década de 1990, várias instituições de pesquisas como a Embrapa, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), associadas a algumas organizações da sociedade civil como o Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), também do Acre, conseguiram definir um leque de procedimentos técnicos que permitiriam, uma vez colocados em prática, organizar a produção florestal em nível de colocação de seringueiro.
Seria possível, dessa maneira, a oferta de um leque variado de produtos e serviços oriundos do ecossistema florestal amazônico. Denominaram essa tecnologia de Manejo Florestal de Uso Múltiplo.
Após 15 anos de sua concepção inicial, essa inovação tecnológica ganhou destaque nas políticas estaduais e nacionais. A recente Lei de Gestão de Florestas Públicas, que instituiu o mecanismo das Concessões Florestais e criou o Serviço Florestal Brasileiro, tem o Manejo Florestal de Uso Múltiplo como princípio norteador.
Em nível estadual não foi diferente, atualmente em estados como Acre, Amapá e Amazonas existem um arcabouço normativo composto por Lei de Política Florestal e de Gestão Ambiental, que corrobora essa tecnologia como referência principal para o uso múltiplo da floresta na região.
No entanto, apesar dos avanços e do engajamento entusiasta que desperta nas pessoas, sobretudo aquelas preocupadas com a proteção da floresta, a propalada biodiversidade ainda irá requerer muito esforço técnico e financeiro para ser alçada à condição de solução para os problemas que afligem a região.
Com uma Engenharia Florestal aliada aos ideais do conservacionismo, que acredita na possibilidade técnica e política da exploração sustentável dessa biodiversidade, a Amazônia deverá investir na promoção e desenvolvimento de procedimentos tecnológicos que orientem o uso dos múltiplos produtos e serviços que o ecossistema florestal amazônico pode ofertar.
É hora de se superar as resistências e assumir que a saída possível é o MANEJO FLORESTAL DE USO MÚLTIPLO, uma tecnologia que, quando reconhecida pelos governos estaduais e municipais, já comprovou seu potencial para promover na Amazônia o Desenvolvimento Sustentável que o mundo espera