Ativistas são pessoas movidas pela emoção e pela paixão em torno de alguma causa. Comumente gostam de fazer alvoroços e pregar a tragédia. Catastrofistas por natureza, quando abraçam temas relacionados à ecologia, quase sempre perfilham uma visão preservacionista e anacrônica, que considera a existência da humanidade um grande e irreversível equívoco.

Vez ou outra apontam suas munições para um alvo que lhes traga grande visibilidade na mídia. Contar com o apoio da mídia, por sinal, faz parte do jogo. Com grande dose de romantismo e pouco ou nenhum domínio das questões técnicas, os ativistas ambientais – não todos, diga-se – geralmente atrapalham mais que ajudam, desinformam mais que informam e, o mais grave, estimulam preconceitos difíceis de se superar depois.

Uma vez que a defesa do Desenvolvimento Sustentável exige algum domínio técnico, os ativistas ambientais quase sempre vão na contra-mão de quase tudo que diz respeito ao tema. Assim, na maioria das vezes, por exemplo, posicionam-se contrariamente ao manejo de espécies (da flora e fauna) e de ecossistemas, referência principal do conservacionismo, movimento que há tempos disputa espaço político com os militantes preservacionistas.

Ao que parece, todavia, dessa vez os ativistas exageraram. O alvo dos seus protestos são os urubus expostos numa obra de arte em exibição pública. A alegação – ridícula, para dizer o mínimo – é a de que os urubus estariam sofrendo maus tratos.

Na obra “Bandeira Branca”, integrante da 29ª Bienal, em São Paulo, o artista plástico Nuno Ramos expõe exemplares de urubus presos em caixas teladas, o que despertou a indignação dos ativistas, que picharam nos muros: “libertem os urubus”.

Eles se negam a compreender – justamente em razão da deficiência técnica – é que os 3 exemplares de urubus usados na obra são oriundos de uma iniciativa voltada para o manejo dessas espécies – o Parque dos Falcões, localizado na Serra de Itabaiana, a cerca de 56 quilômetros da capital Aracaju, em Sergipe.

Esse empreendimento privado, que se destina à recuperação, adaptação e treinamento de aves de rapina (outras espécies de aves como falcões e gaviões também são manejadas no local), é devidamente cadastrado pelo Ibama, como centro de triagem para animais apreendidos na fiscalização. Ou seja, o parque recebe os urubus em condições precárias de saúde e cuida dos animais, direcionando-os para sua reintrodução no meio ambiente.

Um negócio que pode ser rentável, mas que os ativistas odeiam por duas razões: por manejar a fauna e por auferir dinheiro com isso. O que soa infactível à anacrônica linha de raciocínio que proclama ser impossível à espécie humana relacionar-se com qualquer outra espécie, a não ser para destruí-la.

Não enxergam os que compartilham tal entendimento que a obtenção de renda, mediante o manejo da imensa diversidade biológica existente nos ecossistemas brasileiros – que, por sinal, é sempre exaltada como potencial estratégico -, é a maior e principal garantia de conservação da própria espécie manejada e de seu ecossistema natural.

O pior, no caso em questão, é que, como a sociedade no geral, e a mídia e o Ibama, em particular, são movidos por protestos – ainda que de meia dúzia de desavisados -, os urubus foram submetidos a uma absurda perícia de sanidade, e o Ibama (que licenciou o empreendimento) atendeu as pichações e mandou tirar os urubus da Bienal. Ou seja, além do prejuízo intelectual para a formação de uma consciência coletiva que privilegie o conservacionismo, houve o dispêndio financeiro que inutilmente a sociedade teve que arcar.

No final das contas, perdem o artista e a sociedade.

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