Os profissionais envolvidos com a extensão rural na Amazônia tentam, mas não conseguem estabelecer um procedimento de atuação que se diferencie das condutas que, embora ditas de extensão, não passam dos velhos expedientes populistas sempre focados na criação de uma associação de produtores, na destinação de um trator a essa associação e na realização de um evento para a entrega do trator.

Definitivamente, extensão rural não é nada disso.

Ainda que eventualmente um programa de extensão rural, em algum momento, fomente a compra e entrega de tratores a associações de produtores, esse tipo de objetivo nunca – nunca! – poderá orientar a extensão rural, sob pena de convertê-la em mero assistencialismo.

Pior ainda (o que quase sempre acontece), o assistencialismo pode se trasvestir – e desse modo se justificar – em engajamento político. Esse disfarce surge quando a estrutura estatal que promove a extensão rural se impregna por um ideal socialista que, se é que existiu, há muito se encontra superado.

Palavras esdrúxulas como “empoderamento” costumam significar, na dita utopia socialista, a possibilidade duma comunidade adquirir independência financeira, técnica e política, num patamar tal que lhe conferiria condições de ter controle sob todos os elos da cadeia produtiva.

Algo utópico, ou impossível, no âmbito do sistema capitalista. Mas o empoderamento da comunidade certamente agrada muito quando envolve a obtenção de veículos e equipamentos e a realização de eventos festivos.

Dizendo de forma singela e objetiva (embora objetividade não seja exatamente uma característica dos defensores da extensão rural engajada), só haverá extensão rural se, e somente se, o conhecimento científico (embasado ou não no conhecimento empírico) lograr fazer chegar aos produtores um produto novo ou um jeito novo de produzir o mesmo produto.

Há quem chame esse produto novo (ou esse jeito novo de produzir) de inovação tecnológica – o que significa afirmar, sem ressalvas, que inovação tecnológica e extensão rural sempre caminham juntas.

Mas não é inovação tecnológica a fundação de uma associação, como também não o é a doação de tratores e muito menos a organização de um churrasco para a entrega dos tratores.

Continuando no exemplo do trator. Embora a aquisição desse equipamento propicie a mecanização do processo de escavação do solo para a produção de arroz, feijão, milho e macaxeira (o que decerto é muito importante), não há nenhuma inovação tecnológica aí, ainda que anteriormente o produtor fizesse uso da enxada.

Os mesmos produtos continuarão a ser produzidos da mesma maneira primitiva, sendo o trator o prosaico resultado dum assistencialismo por sua vez decorrente da extensão engajada.

Contudo, como esses argumentos estão longe de encerrar alguma unanimidade, no final das contas não é tarefa fácil definir o que pode ou não ser considerado como extensão rural na Amazônia. O engajamento político para a criação de associações é apenas uma das facetas duma contaminação conceitual complexa e de difícil superação.

Enquanto isso, a produção rural continuará assentada no cultivo dos básicos arroz, feijão, milho e macaxeira, realizada sob primitivismo tecnológico e à custa de elevados impactos ambientais oriundos de práticas nefastas como desmatamentos e queimadas.

E a extensão rural continuará a ser responsabilizada por não alterar essa realidade. Uma extensão que jamais aconteceu na Amazônia.

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