A possibilidade de se alterar a maneira como se dava a produção agropecuária na Amazônia chegou à região no final da década de 1980. No Acre foi, precisamente, em 1989 que a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) começou a delinear um consórcio de espécies florestais e agrícolas a serem cultivadas na mesma tarefa do roçado do produtor. Era o início do que viria a ser reconhecido na área técnica como Sistema Agroflorestal ou SAF.

O SAF consorcia ou mistura, na mesma área, espécies ditas permanentes ou semipermanentes, de ciclo médio ou longo, florestais ou não, com espécies da agricultura branca tradicional, de ciclo curto, sobretudo milho, arroz, feijão e macaxeira. No início do plantio, quando as mudas das árvores e arbustos ainda estão no primeiro estágio, o produtor pode conseguir renda com a cultura branca. A partir do segundo ou terceiro ano, quando o produtor normalmente abandona o plantio para ir em busca de novas áreas, deixa para trás um plantio formado de espécies frutíferas e madeireiras.

Na verdade, o produtor enriquece a área de pousio, que periodicamente é tomada pela capoeira. Ocorre que é tradicional na produção agrícola regional a utilização de determinada área de roçado para cultivos de subsistência e comerciais, por um determinado período consecutivo e, depois, seu abandono para o descanso, ou pousio, por período superior a cinco anos. Nesse intervalo de tempo, com a instalação do SAF, ao invés da formação de uma capoeira sem utilidade aparente, o produtor terá, já no segundo ano, uma capoeira com espécies de valor comercial. Esse rendimento com culturas permanentes pode auferir renda para o produtor – de maneira periódica, todo ano e permanente, por um período de mais de 15 anos.

A idéia básica é contornar o problema do desgaste agronômico do solo, resultado das sucessivas queimadas, plantios e colheitas das culturas brancas, por meio de seu descanso prolongado. O produtor não mexe na terra e as culturas permanentes possibilitam melhoria sensível nas condições físicas e químicas do solo. Após esse longo período, o produtor tem novamente uma terra com boas condições para receber novos plantios de milho, arroz…

Além disso, há outra significativa contribuição dada pela tecnologia do SAF. É que, com o passar do tempo, os pequenos e médios produtores, em especial aqueles que conseguiam certo nível de capitalização, viam na pecuária bovina uma opção importante para realizar investimentos.

Em que pese essa pequena criação de gado ter sido diagnosticada, inicialmente, por técnicos da Sociologia e Antropologia, como uma poupança que o produtor instituía para resgatar dinheiro em momentos difíceis, a experiência demonstrou que se tratava, na verdade, de um investimento assumido pelo produtor, após difícil tomada de decisão junto à sua unidade familiar de produção.

A instalação do SAF faz com que o produtor volte sua atenção para um outro tipo de produção. Em vez de seguir no rumo da agricultura destinada a amansar a terra para a pecuária, o produtor pode ir além na própria agricultura, saindo do ciclo curto, que exige um trabalho árduo da família, para o ciclo médio e longo, com produtos de maior valor agregado e, o que é melhor, que exigem menos sacrifícios ergonométricos da família do produtor.

No final das contas, o SAF tem a enorme vantagem de afastar o produtor do caminho perigoso da pecuária.

Mais importante ainda, o SAF tira o produtor do ciclo anual do desmatamento-queimada-plantio. Melhor, o SAF tanto impede que o próprio produtor queime como o leva a convencer seu vizinho a também não queimar, a fim de garantir o crescimento das culturas perenes.

Com um amplo e definitivo programa de instalação de SAF, sobretudo no Vale do Rio Acre…

O Acre não queimará em 2010.

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