Longe de evidenciar excesso de drama ou sensacionalismo, o adjetivo alarmante é mais que apropriado para qualificar o desmatamento praticado na Amazônia entre agosto de 2015 e julho de 2016.

De acordo com o levantamento publicado em 29 de novembro último pelo conceituado Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 2016 houve uma ampliação em 29% na área de floresta desmatada na Amazônia, em relação ao mesmo período de 2015.

Decerto os melindrosos de plantão vão alegar que já houve anos piores, fazendo referência ao recorde de 1995, quando 29.059 km2 de florestas foram destruídos, ou aos 27.423 km2 desmatados em 2004. Mas a análise, obviamente, não pode e não deve seguir esse rumo tacanho.

Algumas razões fazem desse avanço de 29% na destruição florestal amazônica um aumento alarmante. Três delas merecem ser detidamente consideradas pelos especialistas em dinâmica do desmatamento: crise econômica, instabilidade política e tendência da curva.

Existe uma máxima segundo a qual os períodos de crise econômica, como o que se vivencia agora no Brasil, são acompanhados por retração de investimentos produtivos. Essa retração ocorre em todos os setores, fazendo com que os empreendimentos, sejam industriais, sejam de serviço, deixem de ampliar sua produção ou produtividade. No setor primário amazônico não é diferente.

Cabe aqui um parêntese. Na Amazônia, o desmatamento da floresta é a melhor opção de investimento (embora boa parte dos ambientalistas acredite que o produtor desmata por pura maldade). E isso vale tanto para o grande quanto para o pequeno e médio produtor rural (embora boa parte dos ambientalistas acredite que só os grandes desmatam).

Ora, em época de fraca dinâmica econômica como o atual, a redução do consumo de carne de boi, em tese, deveria desmotivar o produtor a desmatar.

Mas isso não aconteceu: desmatou-se mais, a despeito da grave crise econômica que o país atravessa.

Raciocínio semelhante vale para períodos de instabilidade política, quando as decisões de investimento são direcionadas para aplicações mais conservadoras, que representem baixo ou baixíssimo risco.

Quer dizer, em vista da instabilidade política que nos últimos 20 meses tomou conta do país, decorrente da forçada alternância de poder e das intermináveis operações policiais focadas em dirigentes políticos, o sempre arriscado desmatamento da floresta supostamente deveria ter sido adiado, à espera de dias mais favoráveis.

Mas isso não aconteceu: desmatou-se mais, a despeito da grave crise política que o país atravessa.

Finalmente, o terceiro fator a ser examinado diz respeito ao que os estatísticos denominam “tendência da curva”. É que, em qualquer estudo que aborde a dinâmica de eventos, o importante não é o dado obtido num determinado ano ou período, e sim a tendência apresentada pela curva.

Em vista disso, o alarmante do título ganha um peso ainda maior. Acontece que, ao festejar, em 2012, o fato de o desmatamento da Amazônia ter sido, pela primeira vez, inferior a 5.000 Km2, o governo de então não entendeu os sinais de que a curva se inverteria. Contudo, e malgrado a euforia, a área de floresta destruída aumentou 24% em 2015; e 29% em 2016. Parece motivo suficiente para se preocupar.

Há mais um agravante – e no mínimo, perturbador. Amazonas e Acre são os estados que mais desmataram, com impressionante aumento em relação ao ano anterior: 54% e 47%, respectivamente.

Depois dos compromissos assumidos no Acordo de Paris, a possibilidade de um novo ciclo de desmatamento em direção ao interior da Amazônia representa uma verdadeira infâmia perante o mundo.

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