Mesmo sendo de fundamental importância, a reversão da lógica que orienta a ocupação produtiva na Amazônia, por meio da valorização dos produtos oriundos da biodiversidade florestal e da desvalorização da criação de boi, esbarra em conceitos de difícil superação.

Não dá para explicar, por exemplo, a razão pela qual as normas vigentes facilitam a venda de carne de avestruz (animal exótico importado da Europa), mas impõem um rol intransponível de dificuldades para a venda de carne de queixada (animal nativo da Amazônia e sem risco de extinção) a preços competitivos nas gôndolas dos supermercados.

Continuando na tese do aproveitamento econômico da biodiversidade amazônica: além de produtos como carne de animais silvestres e sementes florestais, também os serviços ambientais podem integrar um potencial cluster florestal. É o caso da produção de água por meio da mata ciliar.

A melhoria na qualidade da água, mediante a redução dos sempre elevados índices de turbidez, é um serviço prestado pela formação florestal distribuída ao longo das margens dos rios.

Dessa forma, a propriedade rural que lograr manter íntegra sua mata ciliar pode produzir água com baixo teor de sedimentos, e vir a ser remunerada por isso. Essa remuneração, é claro, dar-se-á na proporção da redução dos custos com a purificação, a cargo das empresas distribuidoras de água nas zonas urbanas.

Fácil depreender que a organização de um cluster florestal na Amazônia é uma questão que merece ser analisada com mais detalhe e informação, isto é, com maior critério.

Essa discussão, entretanto, não acontecerá por intermédio do jornalismo regional ou nacional, que ao tratar de temas sobre a Amazônia se move, exclusivamente, por generalização, sensacionalismo e excentricidade.

De outra banda, a depender da atuação do poder público, será muito difícil a estruturação de um aglomerado econômico para a oferta de produtos e serviços florestais.

Seja em âmbito federal, estadual ou municipal, não se vê nenhuma preocupação, ainda que mínima, em relação à sustentabilidade. Pelo contrário, a promoção da criação de bovinos como via preferencial para a oferta de crédito, destinado ao desenvolvimento regional e fornecido por bancos estatais (leia-se Basa, Banco do Brasil e BNDES), é ampla e recorrente.

E isso não é nenhuma novidade. Durante toda a história econômica da Amazônia, o Estado brasileiro se mostrou incompetente para executar políticas públicas adequadas à vocação florestal da região.

Outra constatação inequívoca é que a expansão da pecuária perdeu força, em grande medida graças à atuação da sociedade civil na Amazônia. Ou seja, o terceiro setor faz parte da solução, e não do problema.

Todavia, de forma reiterada (e equivocada) releva-se o contraponto da atuação das organizações do terceiro setor frente à presença perdulária da estrutura estatal e das empresas, ambas focadas em apoiar o plantio de capim onde antes havia florestas.

A alteração da dinâmica que institucionaliza regras proibitivas para o uso econômico da biodiversidade enquanto a criação de gado avança sobre as florestas deveria ser prioridade para o desenvolvimento da Amazônia. Infelizmente, não é.

Download .DOC

xxxx