Existe um crônico e persistente gargalo gerencial na área ambiental, em todos os níveis de governo (municipal, estadual e federal), nas organizações do terceiro setor e, até mesmo, nas empresas.

Ambientalistas e ecólogos, os primeiros com ativismo político suficiente para tirarem a roupa pelo risco de extinção de alguma espécie, e os segundos estudiosos capazes de estabelecer as complexas conexões existentes entre as espécies e seu meio, parecem ter em comum duas características: deslumbramento pela natureza e distanciamento do gerenciamento.

Ocorre que a área ambiental geralmente é confundida com certo naturalismo, do tipo movimentos da década de 1970. Ou seja, uma pessoa considerada sensível, que goste dos bichinhos, ou que demonstre preocupação com a destruição da natureza (coisas da década de 1970), transforma-se, sem muito esforço em ambientalista e será levada a trabalhar com meio ambiente, independente da área profissional na qual atue.

Assim, se for jornalista irá fazer matérias sobre reciclagem de lixo,

que é a preferida da mídia, se for professor dará aulas de produção de mudinhas, que

também é a preferida e se for engenheiro atuará com esgoto, que também é uma das

preferidas. Pior ainda, se for militante de um partido que esteja provisoriamente ocupando o poder, poderá ser, por exemplo, superintendente do Ibama, ou secretário de Meio Ambiente, ou até mesmo ministro.

No entanto, essa pessoa não possui as condições adequadas para exercer funções de gerenciamento, sobretudo na área ambiental. A ciência ambiental desenvolveu-se de maneira surpreendente nos últimos 20 anos. É impossível trabalhar nessa área sem formação. E, sem formação, esse profissional atuará sempre como os naturalistas da década de 1970: muito engajado, apaixonado, deslumbrado e completamente sem clareza de propósitos e, o pior, sem objetividade, dois pressupostos essenciais em todo processo de gerenciamento.

Constatar a carência generalizada de gerentes na área ambiental não é coisa muito difícil. Começando pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), depois de sua criação em 1992, raramente o responsável por sua gestão teve tino para o negócio. Foram, até hoje, em torno de oito ministros, dos quais talvez um ou dois pudessem ser considerados gestores de fato, isto é, com clareza de propósitos e objetividade.

Nos órgãos vinculados ao MMA não é diferente. O Ibama padece com gestores sofríveis desde sua criação. Para se ter uma idéia da paralisia decisória (aquela que ocorre quando os gestores não decidem sobre qualquer assunto) que envolvia o órgão, no período até final da década de 1990, a permanência como presidente por mais de seis meses era considerado inusitado (em oito anos o Ibama chegou a ter mais de 10 presidentes).

Todavia, é bem possível que mais incompreensível ainda seja o que ocorreu a partir de 2003. Com um período de estabilidade, único na história da presidência do Ibama, conseguiu-se o mais inusitado ainda, criar a figura da “permanência ausente” por mais de cinco anos. É possível que não se tenha um caso semelhante que conjugue tanto tempo de direção superior e de abandono.

Com a Agência Nacional de Águas (ANA) provavelmente não teria sido diferente se as autoridades e legisladores da época não tivessem tido a clareza de fornecer um novo formato jurídico ao órgão, o de Agência Reguladora. Por mais que se critiquem, a ANA é bem superior ao Ibama no que se refere ao gerenciamento.

Infelizmente o mesmo não se pode dizer do Serviço Florestal Brasileiro e do Instituto Chico Mendes, ICMBio. Uma decisão errada fez com que ambos fossem criados no mesmo formato jurídico do Ibama. Esse tipo de órgão requer gerentes ambientais ainda mais experientes, o que é cada vez mais difícil de encontrar. Gerentes que têm como maior missão conter o desmatamento na Amazônia.

Desmatamentos, cujas taxas permanentes, são mesmo de fazer jogar a toalha.

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