Todo mundo gosta de chocolate, um produto que pertence ao exclusivo grupo de alimentos que goza da preferência de todas as sociedades mundo afora, que não possui concorrente direto, que não depende de flutuações na oferta de cacau e, o mais importante, com preço que cabe no bolso de todos.
Tudo depende da origem do cacau. Por sinal, há chocolates para todos os níveis de renda e de classes sociais, dos mais simples aos mais sofisticados, que atendem ao mercado dos produtos mais baratos até aos muito caros.
No primeiro caso, o cacau mais comum será negociado pelo agronegócio internacional como commodities, processado em indústrias espalhadas pelo Brasil e por algum outro país com industrialização um pouco desenvolvida.
Cultivado em monocultivo de larga escala, a produtividade do cacaueiro pode chegar a 1,5 toneladas por hectare, o que permite colocar o Brasil na sexta colocação entre os maiores produtores, sendo que Costa do Marfim e Gana produzem mais de 60% de todo cacau comercializado no mundo.
Todavia, é no segundo caso que entra o cacau nativo da Amazônia.
Nunca é demais lembrar que o cacau tem origem na Amazônia. O fruto foi coletado dos arbustos que crescem sob a floresta tropical com suas árvores de mais de 50 metros de altura, por populações tradicionais, até chegar ao conhecimento dos europeus.
Daí, devido sua atração, ganhou imediato valor comercial, foi exportado e replantado no mundo sendo, há mais de cinco séculos, melhorado em termos genéticos de cultivo para cultivo, sempre com dois objetivos primordiais, resistir a doença e aumentar a produtividade.
Chamada de vassoura de bruxa, a doença do cacaueiro é mortal. Dizima o cultivo e surge sempre que uma quantidade razoável de plantas é colocada no solo com espaçamento típico de monocultivos.
Sendo a Amazônia região de origem do cacau a ocorrência da vassoura de bruxa segue o mesmo princípio. Toda vez que o produtor tenta plantar cacau em monocultivo na Amazônia, a doença dizima o plantio de forma avassaladora com prejuízo elevado.
Por outro lado o cacau nativo, aquele que ocorre no interior da floresta sob a copa das árvores gigantes, além de resistir a doença possui aroma e sabor considerado irresistível e bem superior.
Não é jogada de marketing, mas caso seja, está valendo, posto que existe um nicho de mercado, formado por pessoas que concordam, valorizam e, o melhor, podem e aceitam pagar bem mais pelo cacau nativo da Amazônia.
Não à toa a Mágio, uma fábrica de chocolate de cacau nativo da Amazônia, localizada no Pará, define seu produto como: um chocolate com DNA amazônico e sabor de floresta em pé.
Com investimentos da CBKK (Celo de Bonstato Kaj Konservado) equivalentes a oito milhões de Reais a Mágio vai ampliar suas instalações para duplicar sua compra de cacau nativo junto aos pequenos produtores da região.
Sempre valorizando o cacau nativo e deixando de lado o cacau cultivado em monocultivo a Mágio poderá chegar na COP30, que vai acontecer em Belém em novembro próximo, colocando na mesa o chocolate selvagem da Amazônia.
A Mágio não é a única nem a primeira de uma tendência que coloca o cacau nativo no centro da discussão sobre a bioeconomia com a cara da Amazônia.