A exploração de recursos florestais pelas populações tradicionais é sustentável?

Essa é uma pergunta sempre difícil de responder e que ocupa técnicos e pesquisadores que atuam na Amazônia, desde a redescoberta da existência do extrativismo ocorrida no final da década de 1980. Foi nessa época que a expansão da agropecuária sobre a floresta encontrou um enorme obstáculo: os seringueiros remanescentes dos ciclos da borracha que teimavam em manter essa, então extinta, atividade produtiva.

Diante da ameaça representada pelos desmatamentos, o uso tradicional da diversidade biológica existente no ecossistema florestal foi alçado à condição de alternativa adequada para ocupação produtiva da região.

O argumento principal era de que as populações tradicionais, incluindo ribeirinhos, pescadores, seringueiros, castanheiros, caucheiros, balateiros, índios, carnaubeiros, quebradeiras de coco, entre outros, praticavam a exploração de vários produtos da floresta, de maneira permanente e sustentável, há mais de cem anos. Produziam no chamado modo extrativista de produção e, assim, ajudam a evitar os desmatamentos.

Esse mesmo argumento justificou a criação de unidades de conservação da categoria das Reservas Extrativistas. Era importante garantir terras para manutenção do extrativismo e, consequentemente, da floresta.

Atualmente, na Amazônia, existe uma área maior que a do Acre destinada às Reservas Extrativistas.

Nessas áreas, somente é possível o uso múltiplo e de maneira sustentável da floresta, como atividade econômica para criar emprego e gerar renda.

Mas a resposta à pergunta que iniciou esse artigo ainda não foi devidamente respondida. Pairam dúvidas acerca do potencial do extrativismo para gerar emprego e renda ao nível da demanda existente no interior da floresta. Não há consenso, até mesmo, acerca da adequação ecológica do extrativismo.

Experiências isoladas realizadas no Acre e para as quais não se deu ainda a devida atenção, corroboram a tese de que o uso sustentável é possível tanto em nível de comunidades quanto em nível empresarial.

A solução se encontra no jeito de fazer. Trata-se do emprego de uma tecnologia já existente, denominada de manejo florestal de uso múltiplo, que, em sua maior parte foi desenvolvida no próprio Acre e já demonstrou ser capaz de promover a sustentabilidade social, econômica e ambiental do extrativismo florestal na região.

No caso específico das populações tradicionais e sua relação com a diversidade biológica da Amazônia, objetivo maior das experiências realizadas, esse uso sustentável mostrou-se não só possível, mas também a única alternativa tanto para a permanência das populações no interior do ecossistema florestal, quanto para conservação da própria floresta.

Isto é, ocorre uma relação de dependência mútua: o extrativista, agora manejador florestal, depende dos recursos que maneja, assim como, a floresta depende dos manejadores florestais para demonstrar seu potencial de geração de emprego e renda, e assim, continuar a existir.

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