Nos últimos 20 anos, o Setor Florestal – entendido como as atividades relacionadas à produção, beneficiamento e comercialização de produtos originados do ecossistema florestal – passou por intensa transformação. No Acre, observa-se um crescimento em todos os segmentos desse setor, em percentuais elevados e permanentes. Analisados isoladamente, constata-se que os produtos florestais atualmente são explorados, industrializados e vendidos em quantidade e qualidade bem superior ao que era produzido no final da década de 1980.

Todavia, a despeito da importância social e econômica que logrou alcançar, a atividade florestal não obteve o devido reconhecimento da sociedade local – que, aliás, é a maior beneficiada pelo crescimento do setor. E de todos os produtos florestais, é provável que o caso da madeira seja o mais sintomático desse paradoxo.

O distrito industrial de Rio Branco testemunhou a transformação ocorrida com as serrarias ali estabelecidas. Embora ocupassem a maior parte dos lotes, suplantando um total de 70 unidades e serrando em média 60 mil metros cúbicos anuais, essas indústrias operavam de forma precária, e o seu funcionamento se ancorava num débil arranjo: exploração seletiva de espécies de maior valor comercial (cedro, mogno, cerejeira, angelim); contratação de trabalhadores sem observância das regras trabalhistas; e pouca ou nenhuma preocupação com os impactos ambientais advindos da exploração.

Esse sistema de funcionamento extralegal que caracterizava as chamadas “Serrarias de Ramal” marginalizou tanto a indústria madeireira quanto o seu produto – a madeira. O fator ambiental, obviamente, teve um peso considerável. Mas, para além da preocupação com o meio ambiente, havia também a questão da opressão social, sempre denunciada por técnicos, ONGs, instituições de pesquisa e Academia.

Explica-se: como contavam com escassa estrutura para a exploração e transporte da madeira, as serrarias dependiam da atuação dos toreiros para serrar as árvores em toras e transportá-las até o pátio de estocagem. Os toreiros, por sua vez, iam de ramal em ramal, convencendo o produtor a fornecer as árvores.

Sobre os toreiros – e as serrarias – pesava a acusação de que se locupletavam, pagando ao pequeno produtor uma quantia ínfima por cada árvore em pé.

A realidade, contudo, não era bem assim. Ao se tornar fornecedor de árvores para as serrarias, o pequeno produtor, compelido ao isolamento dos ramais quase sempre intrafegáveis, obtinha algumas vantagens que iam bem além do que ganhava, em dinheiro, pela árvore em pé.

O que se considerava um vínculo desigual – de um lado, o toreiro/explorador, e do outro, o produtor/vítima – era, na verdade, o resultado de uma simbiose comercial, na qual os dois lados tinham suas vantagens e, como ocorre em toda relação comercial, corriam riscos.

O produtor não precisava se envolver com a exploração da madeira, atividade sempre muito arriscada para o toreiro; e sem a interferência deste, não obtinha a melhoria dos ramais e a construção de pontes, sujeitando-se a ficar ilhado no inverno.

Geralmente, essas melhorias não duravam mais que um inverno, o que levava o produtor a reclamar do toreiro no inverno seguinte. No entanto, era a venda da madeira que pagava pela melhoria do ramal, e quando não havia mais árvores num determinado ramal, o toreiro, é claro, partia em busca de outro.

Felizmente, salvo poucas situações, a fase da Serraria de Ramal já foi superada: hoje, o Manejo Florestal é a tecnologia empregada em mais de 90% das toras transportadas pelos treminhões que circulam em Rio Branco.

Resta superar o preconceito que ainda cerca a atividade madeirara, e conferir ao Setor Florestal o crédito que lhe é devido.

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