Que a população indígena existente nas Américas, quando da chegada dos colonizadores europeus eram bem superiores aos números apresentados nos livros didáticos de história, em especial do primeiro e segundo graus, parece não haver dúvidas. Apesar de se tratar de um dado difícil de apurar, os estudos sobre a densidade demográfica dessa época, apresentam valores que chegam, com facilidade, aos milhões de habitantes. O fato é que, tudo indica, havia mais pessoas aqui que na Europa.

Outra dúvida que os estudiosos, sobretudo os arqueólogos, antropólogos e paleontólogos, tentam desvendar é sobre a origem e o caminho realizado pelo homem na sua peregrinação pelo planeta. Novamente a história, que se ensinam nas escolas, tem como certeza, que o primeiro Homo sapiens teria surgido na África e se deslocado, originalmente, pela Ásia e Europa, deixando as Américas para um segundo momento da sua ocupação.

Ainda segundo essa versão, um estreito que ligava os continentes, africano e americano, teria facilitado a passagem do homem para o lado de cá e, seu alargamento devido a movimentos geológicos, não permitiria que os humanos mantivessem relação social e econômica permanente, com a porção das populações que ficaram. A ausência de contato por longo período (até o descobrimento) seria responsável pela diferenciação, em especial física, existente entre o homem europeu e o homem americano.

Novamente, os estudos levantam dúvidas quanto a essa versão, sugerindo que o homem não só pode ter tido sua origem nas Américas, como também teria ido daqui para lá e não o contrário. Sugerem, inclusive, que as civilizações existentes nas Américas eram mais evoluídas em termos de organização social, econômica e produtiva.

E mais, que com relação à organização para produção, as populações ameríndias teriam desenvolvidos métodos de domesticação do ecossistema natural, com o cultivo de espécies nativas, de forma a atender uma crescente demanda por proteínas e amidos. Uma demanda tamanha, representada pela existência de milhares de pessoas, e que, por isso, precisava ocupar extensas áreas territoriais com plantios e cultivos alimentares.

E é nesse ponto que as dúvidas com relação ao grau de intocabilidade e de primitivismo da floresta amazônica surgem. De um lado, há os que defendem que trata-se de uma matemática simples. A elevada população existente tinha uma demanda por alimentos que exigia o plantio de certo número de hectares, necessários para alimentar cada pessoa e que, tendo em vista a tecnologia de produção empregada, esse número de hectares atingiria cifras enormes.

Destinar uma área elevada de hectares (milhares, pois se tratava de alimentar milhares de pessoas) à agricultura significava, como hoje, ao desmatamento do ecossistema natural para domesticação de, no caso, milho e mandioca existentes na floresta. Tendo em vista a intensa e tradicional migração entre as populações indígenas e que as áreas cultivadas, inclusive com o emprego das queimadas, requeriam o pousio para descanso por um longo período, novas terras eram desbravadas e o ciclo produtivo assumiria valores em hectares deveras elevados.

Cifras grandes o suficiente para sugerir que toda, ou pelo menos a maior parte, da floresta na Amazônia teria sido submetida a algum tipo de desmatamento e domesticação. Ou seja, as florestas que tem-se na atualidade é fruto do manejo agrícola praticado pelas populações locais há mais de três mil anos.

Em sendo assim, duas conclusões enganosas podem surgir. A primeira de que se a floresta amazônica não é nativa, ou seja, foi plantada ou resultado de manejo agrícola, não haveria razões para as exigências de intocabilidade que o ambientalismo tanto faz. E a segunda, que deixa todos conformados, de que o desmatamento e a queimada sempre existiram e não tem problema continuar existindo. Enganam-se, pois o desmatamento e as queimadas, de agora, aquecem e colocam em risco a permanência humana na terra.

E, florestas mexidas, ou manejadas, há três mil anos, nativas hoje são.

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