Seria otimismo exagerado imaginar que pecuaristas renitentes, que sempre exerceram a pecuária e dessa atividade sempre obtiveram renda, procedessem a uma alteração substancial em suas unidades produtivas, a fim de trocar de animal, indo do boi para a ovelha. Independentemente da escala de produção, passar do boi para os caprinos (cabras, cabritos e bodes) ou para os ovinos (ovelhas e cordeiros) significaria organizar um novo – e bem diferente, diga-se – tipo de produção.

É certo que o apoio governamental ajuda (e muito) a convencer os produtores a embarcar nessa aventura. Sem dúvida que, contando com o lastro do dinheiro público, os produtores se sentem mais seguros para se envolver com a criação das ovelhas, já que não teriam que arcar com iniciativas de alto custo, como a aquisição de matrizes selecionadas que funcionam como matriarcas do rebanho (daí o seu alto valor).

Entre outros incentivos, o Estado pode ainda fornecer crédito subsidiado e se comprometer com a estrutura de abate, uma vez que as novas criações precisam de matadouro próprio, não podendo ser aproveitadas as instalações empregadas para o abate de bois e porcos.

A despeito desse patrocínio, contudo – e é possível que apenas os extensionistas rurais, que estão no contato diário com os produtores, possam, verdadeiramente, explicar isso – o fato é que os produtores não só não querem mudar do boi para a ovelha, como de fato não irão fazê-lo. Estão apenas se deixando levar, sabendo que podem entrar e sair da atividade sem qualquer tipo de comprometimento.

Existe uma cumplicidade entre quem financia (que precisa mostrar para a sociedade que a produção rural goza de apoio do governo) e quem é financiado (que vive ávido por apoio de qualquer ordem, seja em dinheiro ou assistência técnica); essa cumplicidade solidifica uma produção rural que, de concreto, promove a ampliação de pastos.

Por outro lado, a razão que leva os governos, sobretudo na Amazônia, a investir recursos públicos para estimular a produção de ovelhas ou outro animal que não seja o boi parece ser uma só: é feio financiar a pecuária bovina.

Promover a pecuária bovina passou a ser feio de uns anos para cá. Desde a Rio 92, a segunda conferência da ONU sobre desenvolvimento e meio ambiente, que o cerco sobre a instalação da pecuária de gado na Amazônia vem se fechando. Atualmente, até mesmo ardorosos defensores dessa atividade já se convenceram que o futuro dela, na região, é limitado.

Não haverá mais meios de expansão, pois novas terras significarão novos desmatamentos, algo que a sociedade não irá tolerar. Por sua vez, a ampliação da produtividade, a fim de aumentar a quantidade de bois criados numa determinada quantidade de terra já desmatada, tem limites impostos por uma realidade de mercado – a saber, custos elevados.

Como é feio promover a pecuária, o apoio público a essa atividade, que existe e não é pequeno, acontece por vias tortuosas, que não são explícitas. Mas é esse apoio que fornece à pecuária a importância econômica que ela possui na região.

Todavia, se é feio mostrar apoio à criação de boi, não será diferente, no curto prazo, com a criação de ovelhas. Uma série de fatores relacionados à produção de ovinos e caprinos afastam essa atividade dos ideais de sustentabilidade, tanto ou mais que a própria criação de boi que (paradoxalmente) se pretende substituir.

Além do fato de que se trata de animais que vêm sendo melhorados geneticamente ao longo dos anos, como é o caso da falecida Dolly, que foi clonada, as ovelhas também exigem o cultivo de pastagens – o que, no frigir dos ovos, irá significar mais desmatamentos no futuro.

Ou seja, com as ovelhas não se muda nada na produção rural amazônica, a lógica insustentável da pecuária bovina continua prevalecendo.

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