Mesmo num contexto de carência generalizada de serviços públicos – que, em época de crise, são precariamente prestados por cidades próximas da falência –, não faltam candidatos dispostos a acalentar os sonhos dos eleitores.

Para cada uma das reivindicações habituais da sociedade, sempre haverá um ou mais aspirantes ao cargo de prefeito com uma promessa de solução.

Os eleitores que se preocupam com a escalada da violência, por exemplo, tendem a se identificar com os candidatos que, dando prioridade a esse assunto, garantem que farão a cidade voltar à segurança e tranquilidade de tempos passados.

O mesmo raciocínio vale para a educação e a saúde: os concorrentes ao posto de alcaide municipal fazem coro ao assegurar construção de creches, contratação de médicos, melhoria na qualidade do ensino fundamental, aprimoramento do atendimento nos postos de saúde e tudo o mais que a população cobrar.

Enfim, no que concerne a essas reiteradas e permanentes demandas, fervilham propostas e promessas; todavia, o mesmo não se pode afirmar acerca do desmatamento e das queimadas que todos os anos afligem a região amazônica.

A despeito da natureza rural dessas mazelas, não há dúvida que suas implicações – como a fumaça e as doenças infecciosas que lotam os hospitais, e as secas que prejudicam o abastecimento d’água – tornam a vida da população urbana um martírio.

Embora não sejam de fácil compreensão as razões que afastam das eleições municipais o debate sobre desmatamento, queimadas, rios e matas ciliares, o receio da perda de votos decerto contribui para esse alheamento.

Ocorre que, como a fonte do problema está nas propriedades rurais, os candidatos temem perder os votos que supostamente viriam dos ramais. Incorrem num grave equívoco, ao acreditar na presença de um eleitorado rural forte o suficiente para decidir o pleito. Esse eleitorado, pelo menos no tamanho e qualidade que se imagina, não existe.

Quando a discussão se volta para os conteúdos ditos “ambientais”, pouco importa o fato de a disputa envolver as cidades amazônicas e as questões que lhe são peculiares: apela-se sempre para o discurso fácil e superficial sobre “educação ambiental”, reciclagem de lixo e assim por diante.

Cabe ao eleitor urbano, da mesma forma como faz em relação a outros temas, exigir dos candidatos um posicionamento mais efetivo. É bom esclarecer que, no mínimo, duas medidas factíveis e eficazes podem ser priorizadas pelo futuro prefeito.

A primeira delas diz respeito ao não licenciamento das queimadas no âmbito municipal. Sem embargo da competência alusiva aos entes estaduais em matéria de licenciamento ambiental, certamente o chefe do Executivo pode levar o município a assumir essa atribuição.

Trata-se, a segunda medida, de compelir as propriedades localizadas nas margens de rios e igarapés a cercar e restaurar a mata ciliar sob sua responsabilidade. Aos que alegam que os produtores não dispõem de dinheiro para a compra do arame, diga-se que o município pode subsidiar crédito para esse fim.

Por outro lado, o frequente argumento da falta de recursos dos combalidos orçamentos municipais não serve como desculpa para a omissão das prefeituras – existem programas específicos do governo federal que podem ser acessados para o custeio dessas medidas.

Concluindo, caro eleitor urbano, bem informado, que se preocupa com os malefícios da fumaça e com o destino dos rios amazônicos: vote pensando nisso.

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