Com orçamento estimado em quase 100 mil reais, projeto de pesquisa aprovado no âmbito do edital de reflorestamento do CNPq reuniu um grupo variado de pesquisadores, oriundos da Universidade Federal do Acre e da Unesp, para realizarem expedição ao Rio Purus, no trecho entre Sena Madureira (foz do Iaco) até Manuel Urbano (ponte na BR 364).

Encontrar dificuldade de navegação, em um barco de calado médio com capacidade para transportar em torno de 20 toneladas da carga, em pleno mês de janeiro, surpreendeu a equipe de pesquisadores. Esperava-se, que após iniciado o período das chuvas, há no mínimo 40 dias, os rios amazônicos estivessem com sua vazão de inverno recuperada.

Mas, infelizmente, não é o que ocorre no Purus, nem no Rio Acre e em vários outros tributários do Rio Amazonas. Ao contrário, parece que ao invés das cheias, o que seria normal, as vazões dos rios teimam em permanecer baixas, com bancos de areia à mostra, exigindo perícia dos pilotos das embarcações que são obrigados a executarem manobras complexas para evitar o encalhe.

Além das questões já cientificamente relacionadas com o aquecimento global e as conseqüentes mudanças climáticas, que compromete de maneira geral o regime hídrico de rios, mares e qualquer outro tipo de acúmulo de água, o problema maior, em nível local, remete ao processo de ocupação realizado nas margens dos rios e que colocou em risco a manutenção da sua mata ciliar.

Ocorre que a existência ou ausência de mata ciliar nas margens dos rios pode significar, respectivamente, a garantia do equilíbrio ou a degradação ambiental da bacia hidrográfica. Afinal, não há dúvida quanto a existência de uma relação direta entre a mata ciliar e o regime hidrológico dos rios.

No caso do Purus é visível a alteração no padrão de ocupação da sua mata ciliar, na medida em que se avança em direção a sua nascente, no município de Santa Rosa. Enquanto que na boca do Iaco acontece uma ocupação consolidada pela agropecuária, com predominância da criação de gado, ao se aproximar de Manuel Urbano percebe-se a predominância de extensões contínuas de florestas ainda primárias.

Uma outra característica importante nesse processo de ocupação é que nas áreas próximas aos maiores centros urbanos, como o de Sena Madureira, não são os pequenos produtores rurais, ou os agricultores familiares, que detêm a propriedade das terras. Talvez por isso a produção esteja tão concentrada na pecuária bovina.

Parece que uma classe média urbana, formada em especial pelo funcionalismo público, vinculado à estrutura municipal, estadual e federal, descobriu o prazer de possuir uma colonha, como eles chamam, nas margens do Purus. Situação semelhante ao que acontece às margens das rodovias asfaltadas, cujas áreas consideradas nobres segundo a localização, beleza cênica e preço baixo, estão tomadas pela classe média urbana de comerciantes e funcionários públicos.

Se confirmada esse tipo de informação é crucial para definição de uma política pública que privilegie as características hidrológicas dos rios. Afinal, se a esse tido de proprietário rural, que não depende de uma produção agrícola para sobreviver, a decisão de investimento está relacionada à beleza cênica e a valorização imobiliária, parece evidente que o Purus adquire uma importância especial, maior que servir como principal via de escoamento da produção.

Em 5 dias de navegação, em um trecho considerado de maior dinâmica econômica, os pesquisadores não cruzaram com barcos que transportassem grãos, com 3 que levavam gado e 4 com bananas. Alguns outros, a maioria, transportavam pessoas.

Não é necessário fazer muito cálculo para perceber que o dano à mata ciliar e ao Purus é bem maior que os frágeis benefícios sociais e econômicos obtidos.

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