O estudo acerca da ocupação produtiva de áreas florestais na Amazônia iniciou-se a partir do final da década de 1980. Apesar de uma série de levantamentos anteriormente realizados, em especial pelos órgãos vinculados à organização da produção de borracha (Hevea sp), castanha-do-Brasil (Bertolethia excelsa) e cacau (Teobroma cacau), somente para ficar nos mais importantes, essas análises buscaram diagnosticar o sistema produtivo e, no mais das vezes, regular a produção com fins de arrecadação pública de taxas e impostos.

Uma ampliação significativa dos objetos de análise, bem como uma sistematização dos estudos ocorridos nos seringais, aconteceria com o surgimento de uma engenharia florestal na Amazônia. Ocorre que, para estabelecer estratégias de manejo florestal desses recursos, já explorados e dos novos que surgiriam, a ciência florestal dependia de um diagnóstico mais aprofundado, enfocando três linhas específicas: a) Nicho ecológico das espécies objeto de manejo; b) Desenvolvimento dos procedimentos de exploração a serem praticados visando à manutenção das espécies e ampliação de produtividade e c) Reconhecimento da sócio-economia do extrativista, cuja colocação (unidade familiar de produção), era a principal referência do manejo.

Unir a realização desse leque variado de estudos, no esforço técnico e institucional voltado à viabilidade da produção florestal realizada no interior do ecossistema florestal amazônico, foi a maior contribuição dada pela inovação tecnológica denominada de Manejo Florestal Comunitário.

Uma inovação tecnológica que teria como pressuposto a possibilidade de inclusão da produção de madeira na cesta de produtos florestais ofertadas pelo extrativismo. Com a madeira o extrativista viu sua renda ser ampliada de forma considerável, viu sua colocação adquirir status fundiário de área regularizada, viu o madeireiro ser retirado de sua floresta e viu talvez o mais importante, que a floresta possuía um valor de ordem superior reconhecido por um grupo importante de outros atores sociais.

O Manejo Florestal Comunitário tirou antigo extrativista e agora manejador florestal definitivamente do isolamento. Com apoio de organizações não-governamentais, de órgãos públicos, das universidades e institutos de pesquisas, das igrejas e de seus próprio sindicatos e cooperativas, os manejadores conseguiram realizar diversas experiências de sucesso espalhadas por toda Amazônia.

Todavia os gargalos de ordem política ainda são entraves de difícil superação. Após mais de 15 anos em que os projetos pioneiros tiveram início, como o Porto Dias e o PAD Peixoto, ambos no Acre, e mesmo após comprovada sua efetividade, o Manejo Florestal Comunitário não consegue se multiplicar pelo interior da floresta, como proposta de produção indicada à realidade florestal da Amazônia.

As justificativas de ordem política para que a produção florestal das populações tradicionais não se realize definitivamente por meio da tecnologia do Manejo Florestal Comunitário são muitas. Vão desde a requisição de elevados investimentos iniciais para realização de inventários florestais, até as costumeiras dificuldades de gerenciamento de empreendimentos que essas comunidades possuem.

Justificativas fúteis que esquecem que a multiplicação do Manejo Florestal Comunitário é um imperativo técnico, social, econômico e ecológico. Não há outra alternativa para manutenção do ecossistema florestal na Amazônia.

Afinal, em uma região repleta de populações tradicionais que ocupam todas, ou a grande maioria, das áreas florestais, essas comunidades têm mesmo é que viver do que a floresta dá. E ela, a floresta, tem sido bem generosa.

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