Em um passado não muito distante, há uns dez anos, os extrativistas e produtores rurais amazônidas, bem como os técnicos que atuam no setor primário, tinham certeza: floresta em pé não pega fogo.

Ocorre que as condições de umidade observadas no interior do ecossistema florestal eram suficientes para não permitir, que o fogo, na maioria das vezes, oriundo das queimadas (uma prática antiga e irracional e que, de forma irritante, não se consegue erradicar da realidade rural na Amazônia), se apagasse ao penetrar uns 3 metros na floresta.

Mas essa realidade foi alterada em pouco tempo. O primeiro e trágico sinal de que o tema era grave e de que a ocorrencia de Incêndio Florestal na Amazônia seria sempre uma tragédia aconteceu, já em 1998, quando em Roraima, pela primeira vez, uma área enorme de floresta amazônica nativa, equivalente a 925.470 hectares de florestas, foi consumida pelo fogo.

A afirmação enfática de que Incêndios Florestais sempre estarão associados à tragédias se baseia em duas constatações fáceis de entender.

Primeiro que Incêndio Florestal na Amazônia não tem controle. Não há esforço humano, tecnologia e recursos financeiros suficientes para apagar incêndio em floresta em pé, quando o fogo já se alastrou. No momento em que o fogo pega pressão, somente São Pedro, ao fazer chover, pode controlar um Incêndio Florestal.

A rigor não se consegue ser mais rápido que o Incêndio Florestal. A exigência de um elevado aparato para conter o fogo, com carros, aviões, pessoas e muita, mas muita, água, a ser mobilizado, tornam as ações de controle morosas, em um momento em que a celeridade é fator decisivo para reduzir a tragédia.

Segundo que as extensões de florestas que queimam, dadas as proporções e grandezas amazônicas, serão em todas as circunstâncias enormes. Milhares de hectares de florestas são, em um curto espaço de tempo, consumidos, como os quase um milhão de hectares de Roraima e os 250 mil hectares de florestas queimados na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, em 2005, quando, pela segunda vez na história, a floresta em pé na Amazônia pegou fogo.

Atuar na prevenção parece ser a única alternativa para ação pública. Medidas que reduzam a possibilidade de ocorrência dos Incêndios Florestais precisam ser tomadas no momento em que haja risco. Será necessário, por exemplo, se antecipar com uso de metodologia para cálculo de risco de Incêndio Florestal.

Será preciso mais ainda. Erradicar a prática das queimadas, ou, no mínimo, impedir que seja realizada quando a escala de risco de Incêndio Florestal estiver no vermelho, é essencial.

No caso de Roraima os peritos enviados pela cooperação internacional para analisar a tragédia e oferecer solução, indicou a adoção da piscicultura em pequena escala como um caminho para uma produção agropecuária mais condizente com a umidade relativa e temperatura médias da região. Um total de 3.500 açudes com meio hectare de espelho d’água foram construídos ao longo da área queimada.

Incêndio Florestal não é queimada. Compreender essa diferença é o primeiro passo para adoção da metodologia de análise de risco e de medidas que garantam uma produção agropecuária menos ofensiva ao ecossistema florestal.

É bem provável que os Incêndios Florestais se tornem, no curto prazo, uma das maiores preocupações para a Amazônia. É mais que oportuno a conjunção de esforços da academia e centros de pesquisa para ajudar a encontrar respostas.

Incêndio Florestal é tragédia. Quando acontece o prejuízo é incalculável.

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