O envolvimento das comunidades na busca de soluções para seus próprios problemas era algo impensável há bem pouco tempo. Na década dos planejadores da ocupação social e produtiva na Amazônia, a de 1970, as levas de trabalhadores rurais e urbanos mobilizados nesse processo eram somente uma questão de logística complexa, mas de solução elementar.

Com a redemocratização do país, iniciada no final da década de 1980, uma demanda antes deprimida por participação e envolvimento na discussão de projetos pelas comunidades surgia como reivindicação prioritária dos setores mais organizados da sociedade.

Projeto Participativo, definido como proposta construída em conjunto com os próprios beneficiários de suas ações, transformou-se em sinônimo de transparência, integridade, honestidade e, talvez o mais importante, de adequação à realidade florestal da Amazônia e, por conseguinte, aos ideais de sustentabilidade.

O Projeto Participativo também chegou determinado às esferas públicas. Expressões como parceria, articulação, sinergia, conjugação de esforços e interação transformaram-se em chave para obtenção de recursos públicos.

Todavia, os limites do participativo começaram a ser sentidos no decorrer dos anos 90. De um lado, comunidades desacostumadas com o universo de projetos que dependem do ritual da administração pública viram suas expectativas serem abruptamente reduzidas e, em boa parte das vezes, simplesmente não atendidas.

Como o dinheiro não chegava, a vontade de participar das comunidades diminuiu e, o que é pior, a desconfiança com relação ao destino dos recursos criou um clima penoso de denúncias. As comunidades, sem compreenderem direito o que ocorria, entregaram órgãos públicos, técnicos de assessoria, Ongs de apoio, suas próprias entidades de representação política e, até mesmo, as entidades religiosas à fúria insaciável de uma mídia, sensacionalista na maioria das vezes, que não poupou ninguém.

A letargia e os vícios da administração pública venceram e o desânimo se abateu sobre as comunidades.

Mas, do outro lado, também não era diferente. Os técnicos, em especial aqueles diretamente envolvidos com a extensão florestal, perceberam que o ideal do participativo continha sérias limitações operacionais.

A demanda das comunidades não era suficientemente qualificada para subsidiar a concepção de políticas públicas. As comunidades teriam que, em primeiro lugar, passar por um amplo programa de qualificação. Treinamentos e cursos de toda ordem seriam fundamentais para preparar as comunidades a fim de deixá-las em condições de elaborar melhor suas reivindicações.

No entanto, um erro grave foi cometido. Antes mesmo de solucionar o dilema da qualificação da demanda comunitária, fundamental para tornar o projeto participativo e comunitário uma realidade, órgãos públicos e entidades do terceiro setor optaram por dar um passo perigoso em direção à gestão comunitária de empreendimentos produtivos. Os fracassos, dos empreendimentos baseados na gestão comunitária, já no final da década de 1990 sinalizavam que os apressados teriam que se acalmar.

Mas isso já é uma outra história.

Download .DOC

xxxx