Há os que impõem à extensão rural da Amazônia – sobretudo à extensão praticada no intuito de consolidar e expandir a agricultura e pecuária – o encargo de encontrar uma saída para a emancipação econômica do pequeno produtor rural, superando, dessa forma, os eternos e graves gargalos que emperram a pequena produção familiar na região.

Sob tal ótica, a extensão é direcionada no sentido do engajamento político – em cujo espectro, a extensão é entendida como a realização de um conjunto de atividades de organização política que tornariam o produtor o principal agente de uma produção verticalizada e por ele dominada.

O engajamento político, em tese, levaria o produtor rural – o pequeno, claro! – a alcançar total independência, frente a todos os demais elos da cadeia produtiva na qual está inserido. Um objetivo difícil – para dizer o mínimo – de ser alcançado, especialmente no caso da Amazônia (até hoje, não se tem notícia de algo sequer parecido). No final das contas, esse tipo de extensão costuma dar algum resultado apenas na hora do voto, favorecendo o eventual partido político que se beneficie do tal engajamento.

Deve situar-se aí, nessa singela constatação, a primeira e fundamental conclusão que, não sendo compartilhada pelos agentes públicos envolvidos com o tema (geralmente engajados em projetos político-partidários), pode ajudar a explicar as razões pelas quais os serviços de extensão dificilmente atendem as demandas da sociedade.

É preciso esclarecer alguns pontos, ou, com o perdão do trocadilho, separar o joio do trigo. A extensão rural, na Amazônia, tem uma incumbência espinhosa, sem dúvida – que diz respeito à melhoria das condições nas quais ocorre a pequena produção rural na região. Está nas mãos dos extensionistas a árdua tarefa de fazer com que essa produção, suplantando problemas graves, saia do limbo em que se encontra.

De outra banda, as condições conferidas aos extensionistas para o cumprimento do seu encargo também não são as melhores, e a questão esbarra em dois obstáculos difíceis de ser superados. Implica o primeiro nas condições materiais, que abrangem disponibilidade de carros, barcos, diárias e técnicos qualificados – em nenhuma cidade amazônica a extensão rural é prioridade. Isso é fato.

O segundo obstáculo relaciona-se a um tema mais complexo – alude ao produto e ao modo de produção; ou seja, diz respeito aos padrões tecnológicos a serem empregados no processo produtivo, e à matéria-prima a ser aproveitada.

Quanto a esse aspecto, tanto os produtores quanto os agentes públicos costumam se embaralhar e cometer grandes equívocos; e uma vez que a responsabilidade pelas decisões extrapola o trabalho do extensionista, talvez esteja aí o principal problema.

Afinal, são as autoridades públicas que idealizam uma produção rural de frangos, por exemplo, que resulte em ganhos estimáveis para os produtores, levando-os à tão sonhada emancipação. Ou de hortaliças, côco, cana-de-açúcar, e assim por diante. Compete ao extensionista levar a decisão ao produtor, convencendo-o a abraçá-la.

Todavia, como é enorme a distância entre idéia e materialização (leia-se: efetivação do processo produtivo, existência e aplicação de tecnologia e alcance de um número suficiente de consumidores para dar conta do produto cultivado), a produção rural continuará estagnada.

Restará, então, aos serviços de extensão, o discurso do engajamento político, da libertação do produtor – o que de concreto resultará em reuniões para a criação de uma cooperativa, que certamente irá quebrar depois de um ano de funcionamento; ou a criação de uma associação, que eventualmente existirá sob a tutela de um determinado governo, e que se tornará flanco de resistência quando outro governo assumir.

Ao contrário do que promete, a extensão rural engajada não traz libertação. Somente produzindo, o produtor conquista autonomia.

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