A partir de 1993 a ONU decidiu convocar os países a dedicar o dia 22 de março para refletir acerca dos usos e desusos de um dos recursos mais preciosos do planeta: a água.

Instituiu-se assim o “Dia Mundial da Água”, e a intenção era levar os políticos e governantes a assumir duas premissas relacionadas à conservação dos recursos hídricos.

Primeiro, que a água, independentemente de ocorrer na forma líquida, congelada ou gasosa, deve ser conservada, de maneira a evitar o comprometimento do ciclo hidrológico pela ocorrência de degradação – que por sua vez é consequência de avançados estágios de poluição.

Nesse aspecto, as nações do mundo têm uma dívida incalculável.

As geleiras polares vêm sendo seriamente afetadas devido ao processo (comprovado pela ciência) de aquecimento global e, como se não fosse o bastante, existe um volume colossal de sedimentos, conhecido como “mancha de lixo”, que flutua nas águas oceânicas. Essa massa de detritos, constituída sobretudo por resíduos da indústria de petróleo (como garrafas pet, isopor e plástico) é tão gigantesca que é difícil de ser aferida.

Nesse aspecto, o Acre tem uma dívida crescente.

Diante do que os geógrafos costumam chamar de “geopolítica das águas”, a localização do Acre é estratégica, uma vez que em seu território se situa a área de influência das cabeceiras dos rios Purus e Juruá – para citar os principais tributários da bacia hidrográfica do rio Amazonas.

Todavia, em nenhum momento de sua história recente, o Acre deu alguma importância a isso. Nem mesmo durante a realização dos estudos que culminaram na lei estadual que introduziu o Zoneamento Ecológico e Econômico em 2007, os gestores públicos ou a sociedade se preocuparam em discutir mecanismos para evitar o desmatamento na bacia hidrográfica e na mata ciliar desses rios.

Em 2016, quando o Acre bateu todos os recordes mensais de queimadas e ampliou o desmatamento em quase 50%, poucos se deram conta que, além das florestas que tinham sido destruídas, havia risco real para o equilíbrio hidrológico dos rios – o que significa afirmar que tanto a quantidade quanto a qualidade da água presente em território estadual ficaram comprometidas.

A segunda premissa, de mais fácil entendimento e concretização, diz respeito à universalização do acesso à água. Os países, por seus mandatários, devem assumir o compromisso de garantir às populações do planeta o acesso a um mínimo diário de 110 litros de água potável, de acordo com a OMS, Organização Mundial de Saúde.

Nesse aspecto, as nações do mundo têm uma dívida incalculável.

Estamos em 2017, e de acordo com o Conselho Mundial da Água (WWC, na sigla em inglês) existem quase um bilhão de pessoas com dificuldades para obter o mínimo diário de água potável. Segundo ainda o WWC, “o custo total da insegurança da água para a economia global é avaliado em 500 mil milhões de dólares”.

Nesse aspecto, o Acre tem uma dívida crescente.

Tendo sido um dos últimos, senão o último estado brasileiro a aprovar uma lei estadual de gestão de recursos hídricos, o Acre não abraçou os princípios que se aplicam à gestão das águas, como a instituição de comitês de bacias. E sempre que esse tema vem à tona, a discussão se restringe, inclusive em períodos eleitorais, aos problemas relativos ao abastecimento urbano da capital, Rio Branco.

Por sinal, depois de transitar entre a administração municipal e a estadual, o sistema de coleta e distribuição de água em Rio Branco ainda está longe de uma gestão que possa ser considerada eficiente.

Embora desfrutando do grande privilégio de dispor de expressivo volume de água superficial e de aquífero invejável, o Acre não consegue atrair os investimentos privados requeridos pelos serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto, e em âmbito estadual não há nenhuma perspectiva de universalização do acesso à água tratada.

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