A lista de incongruências ambientais e florestais acreanas aumenta com facilidade. Sem ser prerrogativa de um agente econômico, ou ator social, ou ainda, autoridade constituída específica, as incongruências são ditas, ou escritas, com muita desenvoltura por todos, sem exceção, ou algum tipo de discriminação.

Incongruência é a falta de harmonia de um fato com o fim para o qual se utiliza do fato. É a conhecida falácia de composição, muito usada em pesquisa, quando a primeira assertiva é correta e a segunda também é, mas uma não guarda conveniência ou relação harmônica com a outra.

Incongruências são igualmente muito comuns nas áreas ambientais e florestais. A banalização do termo manejo florestal, ocorrida na década de 1990, em decorrência dos planos de manejo burocráticos exigidos pelo Ibama para licenciamento da exploração empresarial de madeira, talvez seja o melhor exemplo de incongruência na área florestal.

Exigiam-se um documento para liberar a derrubada e o transporte de madeira, como mera formalidade administrativa, e, infelizmente, denominavam-se esse papel de Plano de Manejo. Convencer o empresário de que o Plano de Manejo é o principal instrumento de gerenciamento de sua produção florestal e, mais ainda, a receita técnica para que ele possa explorar anualmente sua floresta em um ciclo de corte de 30 anos, renovável indefinidamente, é uma tarefa quase impossível para o extensionista florestal.

Já na área ambiental, a expressão desenvolvimento sustentável também foi, igualmente, banalizada na década de 1990. De uma hora para outra tudo passou a ser complementado com a expressão ecológico, verde, ambiental e sustentável. Surgiram até as pastagens ecológicas que ajudariam no desenvolvimento sustentável da própria pecuária. Coisas confusas e absurdas assim.

Mais recentemente, a alagação na cota cheia para formação do lago destinado à geração de energia elétrica do complexo de hidrelétricas do rio Madeira acaba de entrar para a lista das incongruências ambientais. Longe de se argumentar pela adequação técnica da geração hidráulica ao ecossistema florestal amazônico, prefere-se lançar mão de uma incongruência, para amansar a ira dos ambientalistas, que viraram recentemente sócio-ambientalistas e transversais, com alegação, sem fundamento, de que o máximo a se alagar é equivalente à cota cheia do próprio rio.

Em um triste pacto, os ambientalistas acabaram por aceitar, no famoso processo social do “me engana que eu gosto”. Mas o desenvolvimento sustentável é implacável e a alagação vai ocorrer, e um grande lago irá se formar podendo, inclusive, tornar-se uma nova e limpa opção de escoamento da produção por hidrovia. Talvez, finalmente, o Brasil pagará à Bolívia pelo Acre, não com a ferrovia mas com a via fluvial.

Problemas ambientais de toda ordem surgirão, mas, o problema ambiental real, concreto e imediato, se originará do elevado e rápido dinamismo econômico que a obra e a operação da hidrelétrica acarretará, em um sistema social, até então, precário.

Plantios de soja darão uma nova paisagem àquela região. É bem capaz que a hidrovia, caso se concretize, torne sem serventia a nossa querida Estrada do Pacífico e, claro, a potentosa ponte, maior que Iñapari.

Mas, da mesma forma que a fumaça das queimadas, que hospitalizam milhares de crianças anualmente no verão acreano, com custos sociais, econômicos e ambientais há muito insuportáveis para a sociedade, NÃO É NOSSA!

CALMA! QUE A ALAGAÇÃO SERÁ SOMENTE NA COTA CHEIA.

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