Logo depois que saiu o resultado das eleições de 2018 aqui no Brasil, o movimento ambientalista foi surpreendido por duas decisões descabidas do governo recém-eleito: extinguir o Ministério do Meio Ambiente, MMA, e não permitir que o país sediasse a conferência da ONU para o clima.

Da primeira houve recuo, e o MMA continuou a existir. Decidir e recuar, aliás, acabou por se tornar uma espécie de “modus operandi” dos novos gestores, a despeito de refletir incompetência e instabilidade.

Mas a segunda decisão foi mantida – e o Brasil, lamentavelmente, perdeu a chance de recepcionar a 25ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, ou COP 25.

As conferências das partes são relevantes eventos vinculados às convenções-quadro da ONU pactuadas durante a Rio 92.

No caso da Convenção do Clima, essas conferências vêm ocorrendo anualmente desde 1995, sendo que no decorrer da COP 21 (2015) foi assinado o Acordo de Paris, o mais importante pacto mundial destinado a conter os efeitos do aquecimento global.

A partir daí, os países vêm negociando, nas COPs, ações de curto prazo para alcançar as metas estipuladas no Acordo de Paris e livrar o planeta da ameaça representada pelo degelo dos polos e consequente aumento do nível dos mares.

Seja na geração da energia elétrica que chega às empresas e residências, seja na produção do combustível que abastece os veículos que transportam cargas e indivíduos, o mundo caminha para substituir o petróleo e o carvão mineral, as principais matérias-primas responsáveis pela crise ecológica que assola a humanidade.

O Governo Temer fez um louvável esforço para trazer ao país a COP 25 – no intuito de reforçar o posicionamento do Brasil como referência internacional para assuntos de meio ambiente.

Desnecessário aludir à importância e às repercussões positivas dessa estratégia para a imagem do país e para transmitir confiabilidade e segurança jurídica na atração de investimentos, sobretudo em setores considerados prioritários para a futura economia de baixo carbono.

Uma estratégia, diga-se, que vem de longa data. Teve início com a decisão, por óbvio acertada, de sediar a Rio 92, mesmo diante das incertezas políticas trazidas pela eleição do primeiro presidente civil em mais de 20 anos.

Depois do divisor de águas que significou a Rio 92, o Brasil se manteve no cerne das negociações que vêm sendo travadas no âmbito de um processo de transição em direção ao emprego de fontes de energia renovável.

O país recebeu, com sucesso reconhecido, diversos eventos voltados para monitorar os avanços decorrentes das 3 principais convenções assinadas em 1992: Mudança do Clima; Biodiversidade; e Agenda 21.

Como poucas vezes se viu na história da diplomacia nacional, a busca pela consolidação da posição brasileira em relação às discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento não deixou de ser prioridade para o Itamaraty, transformando-se em projeto de Estado e superando as ambições de governantes e partidos que ocuparam o Palácio do Planalto nos últimos 30 anos.

Mas tudo mudou agora, em 2019, quando a estupidez dos dirigentes ambientais chegou ao ponto, inclusive, de negar o aquecimento do planeta.

Meia dúzia de gestores públicos despreparados para os cargos que ocupam insistem em negligenciar uma verdade científica sustentada por mais de 3.000 pesquisadores oriundos de todas as partes do mundo, reunidos no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) – que são categóricos quanto à urgência reclamada para a redução do consumo de petróleo e dos desmatamentos na Amazônia.

Pior ainda, no auge da insensatez, preferem romper um importante ciclo na atuação geopolítica e estratégica do Brasil. Um retrocesso perigoso, que vai levar muitos anos e custar muito dinheiro para ser recuperado.

Com a desistência do governo brasileiro, a COP 25 correu o risco de não acontecer em 2019. Para alívio mundial, todavia, os espanhóis se apresentaram para receber a conferência, que será realizada em Madri a partir de 02 de dezembro próximo.

E uma coisa é certa: ao invés de protagonistas altivos, seremos coadjuvantes envergonhados.

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