Por três anos consecutivos o planeta, essa nossa descuidada residência, bate recordes sucessivos de alta na temperatura: desde 1880, ano em que se iniciaram as medições, não tinha havido um ano tão quente como 2014; depois, como 2015; e agora, nunca houve um ano mais quente como 2016.

É bem provável que o pior lado dessa triste notícia seja a constatação de que os recordes eram esperados. Pode-se dizer que todos os países do mundo sabiam que o aquecimento do planeta continuaria em alta e que a soma das elevadas temperaturas mensais resultaria num novo recorde anual.

Sem subestimar os incrédulos – que atrapalham bastante, ao teimar que o aquecimento é passageiro e não uma tendência, como já comprovado pelos cientistas –, o fato é que não se pode ignorar a pergunta: se todos sabiam que a temperatura não daria trégua, por quais razões não se adotaram providências?

Ocorre que a tomada de decisão que leve a medidas concretas é bastante complexa. Não obstante, um passo mais que significativo foi dado pelos países que assinaram o Acordo de Paris em dezembro de 2015.

Os efeitos decorrentes dos compromissos assumidos no pacto global vão demorar a ser sentidos, e como uma grande quantidade de carbono vem se acumulando na atmosfera desde a Revolução Industrial (citando apenas o gás considerado mais importante para o aquecimento e consequente efeito estufa), é certo que muito calor ainda está por vir.

Recordes sucessivos de altas temperaturas põem em risco todo o planeta, entretanto deixam mais vulneráveis, sobretudo no curto prazo, as populações que vivem em locais de baixíssima altitude e nas regiões mais quentes.

A Holanda é sempre lembrada como país cujas terras serão diretamente afetadas pela elevação do nível dos oceanos. Simplificando bastante, o raciocínio é mais ou menos assim: o planeta aquece, derrete o gelo que cobre os polos e as montanhas, a água vai parar no oceano – que fica mais cheio e alaga as cidades litorâneas.

Como o território holandês está localizado no nível do mar, e como os holandeses, ao longo do tempo, aterraram suas praias, com o objetivo de aumentar a quantidade de terras disponíveis para a criação de boi, o risco de o oceano reaver essas terras é real e imediato, como se diz no cinema.

Não à toa o país está desfazendo os aterros, e o planejamento é que até 2050 o território nacional voltará ao tamanho original, ainda que não haja garantia que tal medida será suficiente para evitar inundações.

Na Amazônia, o problema são as altas temperaturas. Quem vive na região sofre com um calor cada vez mais difícil de suportar – bem diferente, como sabem os mais velhos, do clima de antigamente, e por antigamente pode se entender meados da década de 1990 para trás.

E bem diferente do exemplo holandês, o povo brasileiro, como sempre preocupado apenas com o fantasma da corrupção, pretere os assuntos relacionados ao clima e ao destino de sua floresta.

Não há espaço, na imprensa ou na cabeça dos gestores públicos, para uma questão premente e óbvia: não é possível viver numa bolha, transitando-se entre o ar-condicionado de casa, do carro, do escritório, da academia, do shopping, do restaurante.

A perigosa ampliação do desmatamento em 2016, que pode se tornar uma nova tendência, é sintomática em relação ao descaso com que se encara o que acontece na Amazônia. O pior é que esse desinteresse não é só externo.

São os próprios amazônidas que vão tornar o calor e a vida, na região, intolerável. Não vai dar para culpar ninguém mais.

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