Não poderia ter sido mais revelador. A Amazônia e seu ecossistema florestal encerram 2007 como o ano das conquistas. É possível que os historiadores no futuro, caracterizem essas conquistas como aquelas que promoveram uma alteração de rumos no processo de ocupação social e econômica da região. Da visão de celeiro, que alimentaria o mundo, chegou-se ao reconhecimento de sua importância para regulação do clima.

Logo no início do ano, um relatório encomendado pelo gabinete do primeiro ministro britânico, dava conta do impacto econômico que o capitalismo mundial viria a sofrer com o aquecimento global. O alarme soava com a possibilidade real de uma quebra superior a que ocorreu com a bolsa de valores americana em 1929. Algo como 30% da riqueza gerada no mundo poderá ficar comprometida ainda em 2020.

Ou seja, independente da dúvida acerca da ocorrência ou não do processo de aquecimento global, o capitalismo não poderia correr esse risco. Para um impacto financeiro dessa monta o princípio da precaução, que tanto agrada os ambientalistas, chegava, finalmente, aos economistas.

Logo depois o relatório anual do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, IPCC em inglês, faria uma declaração há muito esperada. Formado por mais de 3.000 cientistas oriundos de todo os países associados à ONU, o IPCC, que publica seu relatório desde 1972, assumiu que o planeta estava passando por um processo perigoso de desequilíbrio climático, que o levaria ao aquecimento acima do natural e, o mais grave, que esse fenômeno era resultado das ações humanas.

Ou seja, o mundo esta aquecendo e a culpa é da própria humanidade. Mais que o sistema econômico em crise, como afirmaram os ingleses, é a existência humana que não irá escapar.

Enquanto isso, em nível doméstico, as taxas de desmatamento continuaram a cair. Impulsionada pela tendência de queda já observada nos últimos anos, pela redução das rentabilidades do agronegócio (em especial soja e carne de gado) e pela diminuição de áreas legalmente passíveis de desmatar, a taxa desceu ao seu menor nível desde que começou a ser medida.

Faltava ainda, para fechar o ano, a existência de uma vinculação inequívoca dos alarmes climáticos com o ecossistema florestal na Amazônia. Uma vinculação que viria do mais alto nível, do Prêmio Nobel. Ao consagrar o IPCC e Al Gore, pelos serviços prestados por ambos para o clima mundial, com o Nobel da Paz, reconhecia-se a emergência do tema e estabelecia-se uma estreita ligação com a manutenção da floresta na Amazônia.

Por sinal, ambos os vencedores não pouparam esforços em declarar essa vinculação, com afirmações de que era preciso ampliar a área florestal no mundo e que a Amazônia precisaria de proteção de grau superior e supranacional.

Já no final do ano foi a vez dos profissionais da engenharia civil e da arquitetura, reunidos no Conselho Internacional para Monumentos e Sítios, uma entidade consultora da Unesco, declararem a Amazônia Monumento da Natureza. Um título que fará repensar a execução de grandes obras na região.

Um ano bom, no qual o mundo reconheceu a importância da Amazônia para o clima de toda humanidade. Algo de novo surgirá daí.

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