Com uma demonstração de profunda clareza e objetividade com relação ao tema do desequilíbrio climático global, o presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC sigla em inglês), o indiano Rajendra Pachauri foi categórico ao afirmar que comemorar a redução das taxas de desmatamento não faz sentido.

Mais que isso, para ele, zerar essa taxa, ou chegar ao desmatamento zero somente em 2015, como prevê o Pacto pelo fim do desmatamento, recentemente assinado pelos governadores dos nove estados da Amazônia brasileira, não deveria ainda ocupar as discussões. A grande meta é aumentar a área de florestas no mundo e não monitorar desmatamentos.

Instado a comentar os enormes esforços das várias instâncias dos governos estaduais e do governo federal, sobretudo do Ministério do Meio Ambiente, para controle dos desmatamentos na Amazônia afirmou:

“Não vou comentar o que o governo brasileiro deve fazer, mas florestas como a Amazônia são as maiores fontes naturais para a captação de carbono. No futuro, devemos ter políticas claras e mesmo um acordo internacional para garantir que a cobertura florestal aumente no mundo e não apenas que o desmatamento seja freado”.

Sem dúvida uma declaração, que vinda do atual vencedor do Prêmio Nobel da Paz (o IPCC dividiu o Prêmio com Al Gore vice-presidente americano na era Clinton), além de fazer um claro alerta para os países da Amazônia, inaugura um novo jeito de olhar para a região.

Um alerta porque, em primeiro lugar, chama à reflexão acerca do grau de primitivismo tecnológico do processo de ocupação produtiva da região. Não seria admissível que um ecossistema florestal como o da Amazônia, com funções naturais valiosas e únicas para o equilíbrio climático do planeta, seja ocupada com base no danoso ciclo produtivo do desmatmento-queimada-plantio.

Um alerta porque, em segundo lugar, amadurece no mundo o sentimento de que o ecossistema florestal da Amazônia precisa de proteção superior, de alto nível que as instituições locais, há muito, demonstraram encontrar limites para oferecer. Ou seja, ataques histéricos de soberania à parte, mas, uma proteção que, talvez, somente um acordo internacional, sob a chancela da ONU, pode conseguir.

Um alerta porque, por fim, reconhece o papel imprescindível desempenhado pelas áreas de florestas no mundo, para garantir o equilíbrio climático do planeta. Define, com extrema clareza, que a solução para as mazelas do desequilíbrio climático que coloca o planeta em riso esta nas florestas.

Ao depositar todas as esperanças de regulação do clima nas áreas de floresta, a Amazônia surge, sob um novo olhar, para cumprir seu legado perante a humanidade.

A Amazônia passa da condição de celeiro que alimentaria o mundo, idéia força que justificou a ocupação pela agropecuária na década de 1970, à condição de responsável pelo equilíbrio do clima que manterá a humanidade.

Uma idéia força que justificará o fim da agropecuária na Amazônia, ainda na primeira metade do século 21. Quem viver verá.

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