Parecia óbvio que ao se excluir, da cadeia produtiva, a figura descriminada do atravessador, o produtor, seja de qualquer produto, seria automaticamente beneficiado. Afinal, as análises mostravam com clareza que era na ligação entre os elos da cadeia produtiva que corria o ralo dos lucros da produção primária.

Seria apenas um elemento de ligação, que para os mais engajados, não produzia nada e serviria apenas para unir o produtor, colonheiro ou extrativista, ao usineiro que daria beneficiamento a essa produção.

Excluir a figura nefasta do atravessador, sobretudo esse do primeiro elo da cadeia, pois haviam outros (que atravessaria do usineiro para a indústria, para o distribuidor, para o atacadista, para o varejista, para o lojista, para o camelô…), seria a panacéia que salvaria a explorada pequena produção rural na Amazônia. Ledo engano.

As tentativas de verticalização da produção comunitária, fracassadas em sua grande maioria, demonstraram que o atravessador não era e não poderia ser, desprezível. Tratava-se, ao contrário, de elemento essencial ao funcionamento da cadeia produtiva. Fazer a ligação entre os elos exigia habilidades e uma especialização que os produtores sofreriam muito para adquirir. E, a velha divisão do trabalho ratificaria a máxima de que: quem produz não tem tempo e competência para beneficiar e para vender.

Por sinal, o sonho da verticalização também impregnou o setor empresarial e levou vários grupos empresariais poderosos a reverem seus planos. O dilema entre especialização em setores produtivos ou a verticalização em determinada cadeia produtiva desafia os altos executivos da qualquer companhia.

Além disso, voltando à produção comunitária, a verticalização além de contrariar princípios de gerenciamento da produção, exige um capital humano raramente encontrado. Como é o caso da produção comunitária na Amazônia. As comunidades, ainda não haviam se preparado para os desafios do Projeto Participativo (qualificando sua demanda em políticas públicas) como poderiam encarar a gestão comunitária e daí a verticalização da produção.

E não foi por falta de tentativas. Antes mesmo do surgimento das primeiras unidades de Reservas Extrativistas, no final de 1980, algumas cooperativas criadas e geridas pelos produtores já se aventuravam no complexo universo da gestão comunitária de indústrias de beneficiamento de borracha e castanha.

Muitos projetos ancorados na gestão comunitária e na verticalização, realizados com elevados investimentos, faliram pela menos complexa das dificuldades operacionais: a gestão comunitária não conseguia manter o capital de giro do empreendimento, capital esse geralmente conseguido a fundo perdido, girando.

Por duas razões os exemplos mais significativos desse entrave na gestão comunitária estejam no Acre. Primeiro devido a uma ampliação expressiva da oferta de recursos financeiros não retornáveis (aqueles que as comunidades não precisam devolver), no período posterior à inovação trazida pelas Reservas Extrativistas. Depois porque, colocar as chamadas usinas de borracha e castanha, sob um sistema de gestão cooperada, gerida pelos próprios extrativistas, tinha significado político maior que o retorno econômico.

De uma maneira geral o significado político da gestão comunitária impregnou até os engenheiros que atuavam junto às comunidades. Para se ter uma idéia, com elevado sentimento moral, ético e, acima de tudo, político, característica presente na atuação dos sociólogos e antropólogos, os engenheiros florestais acreanos, caíram na perigosa justificativa de que as usinas, sob gestão comunitária, não precisavam dar lucro, ou ainda, o mais grave, não precisavam sequer se viabilizar financeiramente.

A armadilha da prioridade política estava armada.

Todos caíram levando junto à possibilidade da gestão comunitária das usinas de borracha e castanha.

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