A história da ocupação social e econômica da Amazônia é repleta de exemplos da estreita relação do produtor, à época chamado de extrativista, com o recurso florestal.

Essa íntima relação etnobotânica, que remonta os idos do século XVI com a exploração das drogas do sertão, se fortaleceu de forma singular durante o ciclo da borracha, iniciado no final do século XIX e com término em 1911. Um segundo ciclo gomífero, de curtíssima duração, ocorreria somente no período da segunda guerra mundial, quando os seringais asiáticos foram isolados e o mundo tinha uma demanda crescente por borracha.

Já na segunda metade do século XX, apesar da oferta contínua, no entanto em escala bem inferior de látex, a madeira e a castanha-do-brasil surgem como produtos florestais principais. Mas, a partir da década de 1970, com o acelerar da ocupação produtiva por meio da agropecuária, foi a madeira disponibilizada no rastro do desmatamento, o produto florestal que adquiriu importância econômica expressiva para a região, ao mesmo tempo em que revelava o lado perigoso da expansão da agricultura e da pecuária.

No final da década de 1980, sobretudo no período que antecedeu à realização da Conferência da ONU para Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, o desmatamento, a queimada e a exploração de madeira a elas associadas, tornavam-se exemplos concretos de um modelo de ocupação produtiva inadequado às características do ecossistema florestal local.

O Acre, dado sua condição histórica de maior produtor de borracha, bem como devido a presença insistente de um elevado contingente de produtores ainda residentes no interior da floresta e dedicados à produção de borracha, por isso insistentes, sentiu em maior grau os efeitos da conversão das florestas em monocultivos de toda ordem. Uma reação inusitada surgiria da organização desses produtores seringueiros em sindicatos, cooperativas e junto ao recém criado, em 1985, Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

Por meio da liderança expressiva de produtores, como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, o CNS concebeu e reivindicou a criação de espaços territoriais que lhes dessem garantias fundiárias e, o mais importante, para continuidade de sua atividade produtiva, a extração de látex. Como a manutenção das árvores de seringueiras estava naturalmente associada à manutenção da floresta, o modo extrativista de produção foi, rapidamente, alçado à condição de modelo de ocupação para sustentabilidade econômica, social e ambiental da Amazônia.

O expressivo apoio de um movimento ambientalista, nacional e internacional, ávido por alternativas concretas para barrar a continuidade do desmatamento e das queimadas, transformou a organização dos seringueiros e suas lideranças em ícones de uma luta mundial para conquista do desenvolvimento sustentável. Esse ideal de sustentabilidade se materializaria na criação e estruturação das Reservas Extrativistas.

Criadas primeiramente na condição de Projeto de Assentamento Extrativista, inseridos no Plano Nacional de Reforma Agrária e, posteriormente, como unidades de conservação, inseridas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação, o fato é que as Reservas Extrativistas traziam em si a polêmica possibilidade de se estabelecer uma economia florestal na Amazônia, que fosse capaz de gerar emprego e renda e, o mais importante, não significasse destruição.

A experiência das Reservas Extrativistas extrapolou o Acre, onde fora concebida, contaminou a Amazônia e chegou, inclusive, a ser exportada para outros países. A cada ano são criadas novas unidades e, somente para citar o exemplo acreano, já representam mais de 20% do território estadual. São mais de três milhões de hectares onde a atividade agropecuária não pode ser exercida com fins comerciais, onde a única alternativa produtiva possível para geração de emprego e renda é o manejo florestal.

E, nessa praia, o Acre possui merecido destaque regional na formulação e execução de experiências produtivas inseridas nos ideais de sustentabilidade atualmente preconizados. Públicas ou privadas, comunitárias ou individuais, essas experiências mostram que o acreano sabe manejar a floresta.

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