Vez ou outra jornalistas desinformados gritam contra decisões da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) que autorizam a pesquisa sobre organismos geneticamente modificados (OGM) – muitas vezes chamados, sob um tanto de equivoco e preconceito, de transgênicos.

Aos pouco familiarizados, a CTNBio foi criada pela Lei 11.105/2005, é subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia e tem a missão de assessorar a execução da Política Nacional de Biossegurança para assuntos relacionados a OGM.

Existe desinformação de sobra sobre melhoramento genético e OGM, sendo que o primeiro é praticado pela humanidade desde sua sedentarização, enquanto o segundo ganhou expressão no final do século passado e é considerado uma crucial inovação tecnológica para o primeiro.

Todo o trigo hoje consumido no mundo passou por longo processo de melhoramento genético. Significa dizer que, ao saborearmos o nosso tão tradicional pãozinho francês no café da manhã, estamos ingerindo um trigo bem diferente daquele que alimentava os nossos antepassados.

No instigante livro “Uma breve história do mundo”, o professor Geoffrey Blainey, da Universidade de Harvard, descreve como, há 8.000 anos, teve início esse processo de melhoramento:

Na Síria e na Palestina, logo após os mares terem chegado a seu novo nível, uma pequena revolução parecia estar começando […] O vilarejo de Jericó era a vitrine da revolução por volta de 8.000 a.C. Consistia de pequenas casas de tijolos de barro, lá cultivando trigo e cevada em minúsculos pedaços de terra. Esses cereais, que originalmente cresciam a ermo, foram selecionados para cultivo porque seus grãos eram grandes em comparação aos outros cereais silvestres e um grão maior era mais fácil de colher e de moer, sendo transformado em farinha integral rudimentar.      

Fácil depreender que a seleção, pelo homem, das sementes que naturalmente cresciam em ambiente nativo, para cultivo próximo às moradias, obedecia a alguns critérios. Dava-se preferência às sementes maiores, mais macias, mais resistentes às pragas. Essas sementes, por sua vez, foram sendo replantadas e, com o passar dos séculos, melhoradas, sempre que alguma particularidade genética chamava a atenção por ser considerada valiosa para a humanidade.

Para o autor, a domesticação das espécies vegetais originou a primeira Revolução Verde, que foi seguida pela domesticação dos animais. E tanto o cultivo de cerais quanto a criação de ovelhas exigiram observação e seleção dos espécimes que apresentavam os atributos de interesse dos produtores.

No período posterior à Segunda Guerra, diante da iminência de uma epidemia de fome em escala mundial, os países investiram para aumentar a produtividade agrícola. Surgia a segunda Revolução Verde, baseada em mecanização intensiva, uso de adubo químico e sementes geneticamente modificadas.

A mecanização e a adubação possibilitaram imediato aumento da produção de alimentos. Num segundo momento, a produtividade, medida em toneladas de alimentos por hectare de solo, foi ampliada por meio do emprego de sementes geneticamente modificadas, ou OGM.

Em comparação com as sementes melhoradas durante mais de 8.000 anos, a tecnologia empregada no OGM tem a vantagem de requerer pouco tempo para fornecer à semente uma nova característica importante.

Essa tecnologia recombina o DNA de uma mesma espécie – ou seja, não usa cromossomos de espécies diferentes, por isso não é transgênica. Trata-se de encurtar o tempo para um melhoramento genético que acontece desde que o Homo sapiens deixou de ser nômade, se sedentarizou e dominou o planeta.

Há pressa para ampliar a produtividade agropecuária com OGM? A taxa anual e persistente de desmatamento da Amazônia nos força a acreditar que sim.

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