Em meados de 2003, sob o clássico véu da falta de objetividade e a costumeira tendência à generalização, técnicos, ativistas e gestores que atuam na área do Meio Ambiente, sobretudo em Brasília, chegaram à conclusão de que o tema ambiental caracterizava-se pelo atributo da Transversalidade.

O apoio institucional do Ministério do Meio Ambiente levou o inusitado pressuposto à condição de prioridade. Assim, e conforme prescrevia o mandamento transversal, tornou-se imperativo que as reivindicações relacionadas ao meio ambiente fossem também conduzidas pelos demais Ministérios ocupantes da Esplanada.

Ainda que as inconsistências dessa concepção – que eram evidentes, aliás – não resistissem à mais singela refutação, muitos se deixaram seduzir pelo apelo do modismo, que chegou a ser abraçado por setores da Academia, de organizações não governamentais e até mesmo de algumas instituições de pesquisas.

Na Amazônia, não foi diferente. Acostumada a seguir as tendências da moda burocrática proveniente de Brasília, a região embarcou no ideário da transversalidade ambiental, que contaminou os órgãos ambientais estaduais, bem como a maioria dos atores sociais envolvidos nas discussões sobre a sustentabilidade da ocupação produtiva.

Todavia, salvo na superficialidade, o novo conceito não foi adiante. Em primeiro lugar, não se sabia exatamente o que fazer para que a transversalidade ambiental transpusesse o plano do discurso, para concretizar-se na rotina dos organismos vinculados a áreas distintas, como a Agricultura, por exemplo.

Ademais, os próprios ambientalistas que se agarraram à ideia da transversalidade não possuíam suficiente bagagem técnica para diferenciar essa transversalidade, dita ambiental, de outros temas igualmente transversos, como Educação, Exclusão Social, e assim por diante.

Dessa forma, de 2003 pra cá, a pitoresca transversalidade ambiental passou do deslumbramento típico dos que gostam de novas expressões, para uma perda de significado e desuso.

O problema é o saldo que ficou – além de não se ampliar a abrangência e influência dos temas ambientais, como sustentabilidade e preocupação com a ecologia, reduziu-se o que já se havia conquistado.

Para entender melhor: os defensores da nova abordagem esperavam que as questões ambientais fossem assumidas por todas as esferas de ação do governo federal, reproduzindo-se o mesmo processo no âmbito dos governos estaduais. O que não aconteceu e, tudo indica, não acontecerá tão cedo.

Como os demais organismos do governo federal não internalizaram as demandas da área ambiental, a estratégia dos gestores ambientais foi simplesmente no sentido de abrir mão de suas incumbências; em outras palavras, de transferir responsabilidades inerentes à área ambiental para a competência de outros órgãos.

O exemplo mais contundente dessa lamentável postura foi o Plano Amazônia Sustentável, que, num primeiro momento foi entregue à coordenação do Ministério da Integração Regional, e posteriormente, à Secretaria de Assuntos Estratégicos. Ou seja, em nome da questionável transversalidade, o Ministério do Meio Ambiente eximiu-se de assumir a coordenação de um instrumento crucial para a sustentabilidade da Amazônia.

Diante da crise ecológica contemporânea, em que tragédias como desbarrancamentos, inundações e tsunamis acontecem quase todos os meses, certamente que toda a coletividade deve atuar, cotidianamente, em favor da sustentabilidade.

Mas, cada um (e mais que todos, os organismos governamentais) tem a obrigação de assumir seus encargos – sem tergiversar, sem transversalizar, sem se eximir, enfim, de suas responsabilidades.

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