Quem circula pelos corredores da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, habitua- -se aos modismos que costumam ornar o dialeto da burocracia pública, e cujos termos – a despeito de aparentarem tratar-se de novas abordagens técnicas – são, a bem da verdade, mera reinvenção da extenuante (e muitas vezes insensata) máquina de fazer andar papéis, expressando pouco ou nenhum significado.

Tem sido assim há muito tempo, e não seria diferente na área ambiental. Aliás, eis aí um campo em que – talvez por sua relativa contemporaneidade – abrolham novos termos aos borbotões, feito água jorrando morro abaixo.

“Socioambientalismo” é um deles; uma dessas palavras originadas de outras duas ajuntadas, do jeito que fazem os ingleses – povo que gosta de agrupar palavras, é certo, mas que consegue aprofundar e materializar os conceitos denotados pelos novos termos cunhados. De nossa parte, detemo-nos à superfície das palavras; satisfazemo-nos com a incorporação da novidade ao jargão da área respectiva.

Pois bem. O termo socioambientalismo surgiu exprimindo a idéia de que, por aqui, o ambientalismo não poderia excluir o apelo social; afinal, como país terceiro-mundista que se preza (não obstante sua pujante economia), o Brasil deveria enfrentar a pobreza também pela via ambiental.

Porém, como sói acontecer com os termos da moda, que ficam em voga por um tempo, para depois soar como antiquados ou – por que não? – démodés, o tal do sociambientalismo caducou rápido – ainda que alguns desavisados tenham se apegado à palavra, e tentem extrair-lhe algum efetivo significado.

Ocorre que no inusitado conceito (se é que se pode chamar assim) se incutia um grave vício de origem. Pois que, pela noção “socioambientalista”, o Ambientalismo estrito senso (ou seja, sem o prefixo “sócio”) ficou restrito à acepção ortodoxa do termo, que não considera a possibilidade de o homem interagir com os recursos naturais, sobretudo os recursos naturais renováveis.

Por outras palavras, reduziu-se o Ambientalismo a uma de suas vertentes – talvez a menos importante -, denominada Preservacionismo; excluiu-se, dessa forma, o Conservacionismo, que é a outra linha do movimento ambientalista. Por sinal, a responsável por um dos maiores avanços já observados na temática ecológica: o conceito de Desenvolvimento Sustentável, surgido na “Rio 92”.

Pode-se dizer que praticamente tudo o que se escreveu para definir o socioambientalismo já havia sido escrito ou desenvolvido pelo Conservacionismo. Não havia novidade teórica alguma – apenas alguém achou coerente a possibilidade (retórica diga-se), de se melhorar os índices de pobreza, por meio de projetos ditos ambientais.

Com o deslumbramento característico dos que valorizam a superficialidade em detrimento do conteúdo, o sociambientalismo ganhou reforço nas esferas política e acadêmica. Um e outro, academia e políticos, tentaram a todo custo incutir na sociedade uma idéia de ambientalismo que não resistia à menor sacudida da realidade.

Na Amazônia, o socioambientalismo desandou quando, por exemplo, a criação de gado nas Reservas Extrativistas passou de uma vaquinha, que significava poupança para um caso de emergência, para uma manada de bois, que representa o investimento de toda a riqueza gerada na reserva, e que causa elevados impactos ambientais, desvirtuando totalmente a finalidade da unidade de conservação.

No final das contas, o socioambientalimo, que ganhou visibilidade a partir de 2003, na administração pública federal, não se sustenta por duas razões simples: ou é mera repetição do que os conservacionistas defendem desde o final do século dezenove, ou não é factível diante da realidade; não é real, enfim.

Cunhar palavras novas, sem que haja um efetivo significado para elas, pode até fazer girar a máquina da burocracia, mas não resolve nada.

Download .DOC

xxxx