O Datafolha publicou resultado de pesquisa de opinião indicando que 87% dos brasileiros apoiavam a controversa greve dos caminhoneiros; e que iguais 87% não aceitavam pagar a conta dos prejuízos.

Com todo o respeito ao Datafolha e toda a confiança em pesquisas de opinião, há que se questionar se, diante de tamanho paradoxo, as perguntas foram elaboradas corretamente.

Acontece que, como a formulação da pergunta a ser dirigida ao entrevistado configura ponto-chave na metodologia das pesquisas de opinião, equívocos na elaboração dos quesitos podem fazer com que as respostas se anulem.

No caso da pesquisa sobre a greve dos caminhoneiros, há uma clara contradição entre as respostas dadas, pois somos um país capitalista e, como tal, sabemos, ou deveríamos saber, que não existe almoço grátis: alguém – sempre! – tem que pagar a conta. Por conseguinte, não se pode falar em apoio sem custo. “Apoiar”, em última análise, significa dar alguma coisa em favor de alguém.

Essa contradição sugere que as perguntas foram erradas. Ou, então, que a sociedade brasileira opera em curto-circuito social.

Por sinal, resultados semelhantes costumam ser obtidos pelo Datafolha e outros institutos, em pesquisas indicativas do apoio popular à privatização de empresas estatais. E em relação a esse assunto, o paradoxo é ainda mais evidente.

Mesmo diante da ojeriza aos políticos, que chegou ao limite com a interminável operação Lava Jato, e mesmo diante da evidência de que nenhuma estatal resiste a uma auditoria em suas finanças ou em seus resultados operacionais, as pesquisas afirmam que a maior parcela da sociedade se posiciona contrariamente à privatização.

Quer dizer, mesmo odiando os políticos e mesmo sabendo que são eles que nomeiam os gestores das estatais (sejam competentes ou incompetentes, honestos ou desonestos), e que essas empresas são reiteradamente envolvidas em crimes de corrupção – mesmo assim, os brasileiros preferem deixá-las nas mãos dos políticos. Não é insano?

Enfim, como explicar que, diante da certeza da desonestidade dos políticos e do uso eleitoral explícito pelo qual passou a Petrobras, sendo que, em mais de 60 anos de criação, são raros os períodos em que essa estatal foi poupada, o povo opte, ao invés de vender, por mantê-la sob a gestão dos políticos?

Não à toa, a situação da Petrobras é exemplar. Afinal, a empresa se encontra no cerne de um dos maiores escândalos nacionais de corrupção, tendo causado prejuízos incalculáveis ao país (que ficaram ainda maiores, diga-se de passagem, depois da sabotagem levada a efeito pelos caminhoneiros).

Políticos populistas gostam de recorrer a motes ultrapassados, como “o petróleo é nosso”, ou “não vamos entregar nosso patrimônio aos estrangeiros” – além de outras baboseiras nacionalistas que unem esquerda e direita.

Entretanto, não dá pra acreditar que essas bobagens induzam, de forma tão categórica, a opinião pública contra a privatização.

Na verdade, esse tipo de pesquisa de opinião, por sua natureza complexa, requer uma abordagem específica do entrevistado, um esclarecimento prévio.

Para o tema da privatização da Petrobras, há que se explicar ao entrevistado, antes da formulação da pergunta, que a riqueza nacional é o petróleo, não a Petrobras. Portanto, não precisamos da Petrobras para comercializar as jazidas de petróleo, cuja venda, independentemente da existência da estatal, gera vultosos recursos – que podem ser dirigidos para a cobertura de serviços sociais.

Em outras palavras, não existe razão econômica que justifique não privatizar a Petrobras. É disso que se trata. Apenas disso.

O fato: como estatal, a Petrobras não escapou do uso eleitoral por partidos de esquerda. A opinião: melhor vender, antes que seja tarde.

 

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