Com o término das eleições uma constatação parece ser evidente. Apesar de figurar como um dos pontos de preocupação da sociedade brasileira, o debate acerca do caminho que poderá levar a Amazônia à conquista da necessária e sustentabilidade não parece empolgar nenhum dos candidatos.

Propostas nas áreas de saúde, educação e obras, muitas obras, praticamente iguais entre os candidatos, exceto claro, para aqueles 5 partidos que ainda não sabem que o Brasil adotou o capitalismo já há algum tempo, foram repetidas cansativamente, no primeiro e segundo turnos, sem nenhuma característica que ajudasse o eleitor a diferenciar algum candidato.

Por outro lado temas profundos como a importância do agronegócio, redução do papel do estado na economia, privatizações, carga tributária, reforma política, e, talvez um dos mais prioritários em tempo de economia de baixo carbono, a Amazônia, são tratados com preconceito, desinformação e indiferença, nessa ordem.

No caso específico da Amazônia o momento é mais que prioritário e a campanha eleitoral poderia ter contribuído para superar, o que pode ser o maior problema: desconhecimento das alternativas para a região.

Ocorre que questionar o modelo de ocupação social e produtiva da Amazônia realizado até então, quer seja do ponto de vista da centralização do processo de planejamento oriundo de Brasília, quer seja com relação ao inevitável e perigoso estímulo à concentração econômica, sobretudo de capital e de terras, ou ainda e mais recentemente, quer seja sob a ótica dos efeitos ecológicos nefastos advindos da expansão da agropecuária, que pode colocar em risco a sustentabilidade da região, motivou a elaboração de uma quantidade elevada de estudos, matérias jornalísticas e documentos acadêmicos.

Parece haver um consenso acadêmico, científico e técnico acerca da inadequação do modelo de desenvolvimento, ancorado na substituição do ecossistema florestal local por monocultivos de grãos ou de forrageiras destinadas à pecuária bovina, à realidade social, cultural e ambiental da Amazônia.

No entanto, se de um lado a maioria concordaria com essa inadequação do modelo agropecuário, de outro, também parece não existir perspectiva de construção de consenso em torno das alternativas para substituir o atual modelo.

A originalidade de um debate eleitoral com esse conteúdo, provavelmente, poderia atrair atenção dos eleitores, mesmo que somente os mais informados, que no fim das contas são os que conseguem assistir aos programas eleitorais, além de ajudar a pensar saídas estratégicas para a região, o que, até agora, não existem.

Manter as franquias fiscais da Zona Franca de Manaus, ou a construção de uma ponte sobre o Rio Negro, para se chegar à Manacapuru de carro e dispensar a balsa, ou ainda a instalação de alfândegas nas fronteiras, como se mostrou nos programas eleitorais, não levará a lugar algum.

É lamentável, mas ninguém em nenhum momento teve disposição para defender, de forma explícita, que a sustentabilidade da ocupação na Amazônia, depende da manutenção do ecossistema florestal e, o principal, que essa manutenção, por sua vez, depende do uso múltiplo da diversidade biológica corrente naquele ecossistema.

Talvez porque seja raro encontrar defensores da urgência na exploração econômica da biodiversidade da floresta amazônica, na condição de instrumento para sua própria manutenção. Talvez porque a maioria gosta de pregar o potencial dessa biodiversidade para geração de riqueza no futuro, ou como portadora de um elevado valor estratégico, mas não aceita ver um caminhão carregado de toras no presente.

Talvez porque acreditem que polêmica em torno do rumo da Amazônia tira votos. Enganam-se, ou se discute aqui ou lá fora, os políticos não podem fugir.

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