Não é preciso se dar ao trabalho de avaliar os planos de governo elaborados pelos partidos políticos que mantêm candidaturas à presidência da república para constatar uma evidência: nenhum deles apresenta uma proposta que possa ser considerada contemporânea para a Amazônia.

Por proposta contemporânea entenda-se um conjunto de ações de política pública que se coadune com os ideais de sustentabilidade atualmente preconizados mundo afora. Uma política pública, enfim, que forneça ao mundo uma resposta convincente quanto às nossas responsabilidades no cuidado com o ecossistema florestal na Amazônia.

Excluem-se aí, de pronto, os partidos que, em relação à Amazônia, depositam suas expectativas num sentimento anacrônico e tacanho de soberania nacional. Ora, o reforço da soberania nacional não é e nunca foi prioridade para os amazônidas, e não leva a região a lugar nenhum.

Acompanhando de perto a exaltação da soberania há os partidos que acreditam que o problema da Amazônia reside no permanente risco de saqueamento impingido por gringos e multinacionais em busca das riquezas que a floresta abriga – o que costuma ser rotulado como biopirataria.

A histeria da biopirataria, contudo, a despeito de atrapalhar muito, não possui nenhum fundamento. Ao contrário, a história demonstra que foi a exportação regular de produtos florestais (sempre realizada às claras, diga-se) que possibilitou à região manter uma forte relação comercial internacional, propiciando a geração de emprego e renda e uma ocupação produtiva que, por sua vez, favoreceu o surgimento de cidades como Manaus e Belém, só para ficar nas mais populosas e estruturadas.

Outro ponto importante é que as ações de política pública voltadas para a conservação do ecossistema florestal amazônico sempre – sempre! – contaram com expressivo apoio e elevados recursos financeiros oriundos da cooperação internacional. Significa dizer que, não fosse, por um lado, a pressão internacional direcionada à conservação da floresta, e por outro, o elevado aporte de dinheiro para o custeamento de ações de conservação, os índices de desmatamento na Amazônia seriam hoje, seguramente, estratosféricos.

Excluindo-se as tolices da soberania e da biopirataria, restam ainda os partidos políticos que acreditam na falácia da Amazônia como celeiro do mundo. Apresentam-se como defensores de uma vigorosa produção agropecuária, ancorada na soja, no gado e na cana-de-açúcar, e que levaria a região a reviver os períodos áureos proporcionados pelos produtos florestais, como foi o caso da borracha.

Essa proposta, contudo – como mais uma vez a história recente demonstra – é insustentável. A pressão internacional não vai tolerar a ampliação do desmatamento. Embora poucos partidos defensores do agronegócio entendam, o fato é que sem desmatamento, não há produção agropecuária.

Voltando ao início do artigo, uma proposta contemporânea pressupõe a definição de ações a serem assumidas já em 205, de forma que o desmatamento e as queimadas, as principais mazelas enfrentadas pela região, sejam solucionadas até 2025.

Há quem afirme que o mundo aceitaria uma taxa de desmatamento em torno de 3.000 quilômetros quadrados de florestas perdidas por ano, o que é um grande equívoco. A área é insignificante para o agronegócio, mas absurdamente extensa para ser desmatada todos os anos.

Igualmente, é equivocada a ideia, sempre defendida no meio político, de que a existência da Zona Franca de Manaus representa algum tipo de solução para a sustentabilidade.

Uma proposta contemporânea para a Amazônia pressupõe a geração de riqueza por meio da exploração permanente da biodiversidade. É a única saída.

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