Ao que parece, a mídia já assumiu seu lado na discussão. Sabe-se lá por qual razão, tem mostrado tendência contrária à privatização da Eletrobras.

Com argumento simplório e panfletário, mas carregado de apelo popular (como de resto acontece com todos os argumentos simplórios e panfletários), a imprensa resolveu alertar que a privatização poderá – veja bem, trata-se de mera eventualidade – aumentar o preço da eletricidade fornecida às empresas e cidadãos.

Por que o aumento ocorreria e como a privatização entra na conta, com o perdão do trocadilho, ninguém vê necessidade de esclarecer.

De outra banda, algumas informações podem explicar melhor essa matemática. Talvez a mais importante seja o fato de que a Eletrobras, segundo dados oficiais do Ministério das Minas e Energia, vem dando prejuízo desde 2012 e acumula dívida de 40 bilhões de reais – a ser quitada, obviamente, pelos brasileiros.

Pouca eficiência operacional, ingerência na nomeação dos inúmeros cargos, além do controle dos preços cobrados das distribuidoras de energia pelas empresas geradoras (que, por sua vez, são debitados na conta do consumidor final). Essas são, em suma, as razões apontadas para o persistente balanço negativo da Eletrobras.

Vale lembrar que a justificativa da urgência na privatização é a falta de dinheiro público para sanar essa dívida volumosa. Claro que sempre haverá a alternativa da criação ou aumento de impostos, se alguém ainda topar pagar.

Se por um lado a estatal causa prejuízo e não obtém ganhos de eficiência que possam baratear o serviço prestado à população, por outro, já chegou a ser citada no conturbado e histérico processo da Operação Lava Jato.

Seria muito difícil à Eletrobras, na condição de empresa pública, sofrendo ingerência política a todo momento e passando por graves e permanentes dificuldades orçamentárias, resistir a um processo intenso de fiscalização, ainda mais sob o alto grau de moralismo a que estamos acostumados. O fantasma da corrupção, não há dúvida, vai se exteriorizar.

Imagine-se o resultado de uma varredura nas finanças de Furnas, com suas 12 usinas hidrelétricas e 2 termoelétricas; na Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco; e na Eletronorte, responsável pela geração e distribuição de energia elétrica na Amazônia – só para ficar nas principais empresas pertencentes à Eletrobras. Poucos se dão conta do gigantismo das estatais brasileiras e da quantidade de cargos disponíveis para provimento pelos políticos.

Poucos se dão conta também do preço pago pela sociedade para cobrir os gastos associados ao combate à corrupção. Além das despesas referentes ao custeamento da estrutura institucional em si, de operações como a Lava Jato, dos altos salários e diárias destinados aos caçadores de corruptos, os acordos de leniência fechados pelas indústrias acarretam demissões e promovem a crise econômica que o país, a despeito dos sacrifícios suportados pelo povo, não consegue superar.

Parece evidente que a forma mais barata e eficiente de evitar que a corrupção se prolifere e impregne uma empresa colossal como a Eletrobras é tirá-la do âmbito estatal, colocando-a sob o crivo de uma gestão profissional que só a iniciativa privada pode possibilitar. Na pior das hipóteses, se a corrupção chegar ao âmbito privado, ao menos o prejuízo não vai ser do Erário, da viúva.

Há de se convir que manter servidores públicos esticando fios, instalando relógios medidores e, ao mesmo tempo, construindo usinas hidrelétricas é uma anomalia, um anacronismo que já não se justifica, ainda mais considerando nosso histórico de incompetência na gestão pública e nossa folha corrida de casos de corrupção em estatais.

Se a desestatização, como pretende o governo, retirar dos políticos o poder de ingerência sobre a Eletrobras, está de bom tamanho.

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