Não é somente a água, estudo realizado pela Agência da Organização das Nações Unidas, ONU, para Agricultura e Alimentação, FAO, mostra com clareza que a criação de gado, nos moldes como é realizada atualmente, compromete o solo, os recursos hídricos e contribui para emissão de carbono para a atmosfera.

O estudo enfatiza a importância da atividade pecuária, tendo em vista, sobretudo, que a demanda por carne bovina, tanto aquela relacionada à ampliação do consumo per capita quanto a destinada ao aumento da população, deverá ser ampliada anualmente e dobrará até 2050 chegando à assombrosa cifra de 463 milhões de toneladas de carne.

Para atender tamanha demanda a atividade pecuária, afirmam os pesquisadores, não pode continuar sendo praticada com elevados custos para a sociedade. A carne precisa ser de boa qualidade e barata, mas o boi não pode ser criado com custos ambientais abusivos para a população.

Para se ter uma idéia, o trabalho dos pesquisadores originou uma análise de cenário nada animador. A pecuária consumirá 8% da água mundial, vai gerar 18% de todo gás causador do efeito estufa, o que é superior à quantidade de gases oriundos dos transportes, e vai produzir 37% do gás metano oriundo de atividades humanas.

Além disso, a importância da pecuária se eleva uma vez que responde por 40% do valor de toda produção agropecuária mundial e ocupa um território equivalente a 80% da área total destinada à agricultura, incluindo a produção de alimentos e de energia.

A pecuária é, sem dúvida, a atividade que utiliza maior quantidade de recursos naturais do planeta. Por essas razões, os autores consideram que seria impossível manter os níveis atuais de externalidades ambientais causados pela produção de carne.

A solução, apontada pela FAO certamente resolve o problema dos custos socializados da pecuária: a taxação. Evidente, que não é a solução que agradará os pecuaristas, mas parece ser uma tendência mundial.

A FAO sugere que os grandes exportadores de carne, como a China, que é o maior exportador mundial, e o Brasil, que é o quarto maior exportador, instituam mecanismos para tornar a pecuária menos agressiva ao meio ambiente fazendo com que, os custos ambientais da produção sejam internalizados pela atividade produtiva.

Na verdade, para a FAO, os pecuaristas deveriam ser obrigados a pagar uma “taxa pelo direito de utilização de recursos naturais”. Os estudiosos consideram ainda que “os preços atuais das terras, da água e dos alimentos usados na produção dos rebanhos frequentemente não refletem o verdadeiro valor desses recursos, o que provoca seu excesso de consumo”.

Ou seja, a atividade é praticada sem preocupação com a otimização no emprego dos recursos usados na produção. O não pensa em economizar água porque não precisa pagar por ela. Da mesma forma que gasta o solo em demasia.

A forma de enquadrar a produção de carne, para evitar os excessos no uso dos recursos, seria fazer o produtor pecuarista pagar por esses recursos. O que acontece atualmente é que a sociedade, que deverá bancar os custos da recuperação das bacias hidrográficas e do solo, termina subsidiando a produção da carne.

Cada boi consome o equivalente a 36 litros de água por dia, uma água que a pecuária não paga por ela e por isso não faz parte da planilha de custos da atividade, o que a FAO acha inconcebível.

Se a pecuária pagar pela água que o boi bebe irá competir em igualdade de condições pelo uso do solo na Amazônia. Talvez, assim, não seja a melhor opção.

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