Um total de sete fazendas do Acre estão fora do fornecimento de carne bovina aos 3 maiores frigoríficos nacionais. Apesar das queixas dos pecuaristas que alegam tratar-se de manobra dos frigoríficos para reduzirem o preço pago pelo boi no pasto, o que ocorre é que os produtores selecionados não vão poder vender aos grandes frigoríficos, independente de que preço tenha sua manada.

Foi o mais duro golpe dado a atividade de pecuária bovina praticada na Amazônia. Fruto de um acordo inédito, articulado pelos ambientalistas do Greenpeace e Amigos da Terra, dentre outros, que contaram com o imprescindível apoio do Ministério Público Federal, os frigoríficos, somente os grandes que abastecem o mercado das regiões sul e sudeste e que respondem por mais de 30% de todo gado comprado na Amazônia, se comprometeram com a garantia da origem da carne.

Se antes do acordo não importava aos frigoríficos se o boi comprado havia sido criado em Unidades de Conservação, algum Parque Nacional ou Reserva Extrativista, por exemplo, ou em novas áreas recém desmatadas para plantio de capim, ou ainda, em Terras Indígenas, e, por fim, em áreas sem regularização fundiária definida e onde se pratique algum tipo de trabalho escravo, a partir de agora, parece que a origem do boi é bem mais importante que o seu preço.

Afinal essa origem vai determinar se o pecuarista participa ou não do mercado. É como se fosse uma triagem, para análise de características fundamentais, relacionadas em especial ao meio ambiente e às condições trabalhistas, que vão determinar se o produtor é apto a participar do mercado. Estando apto poderá negociar o preço.

A atividade da pecuária não esperava, com certeza, por esse duro e definitivo golpe. Estavam, os pecuaristas, ainda na eterna e difícil, diga-se, discussão acerca da certificação da sua produção. Achavam que o emprego, pelo mercado, de um selo de adequação ecológica da produção, era oneroso e não compensava.

Jamais esperariam, que um boicote à entrada no mercado de sua produção, devido a salvaguardas ambientais e sociais, ocorreria e que nunca seriam obrigados, pelo próprio mercado, a se enquadrarem praticamente na marra.

Talvez por falta de visão de futuro e pela experiência com franquias legais que acabavam acontecendo, como a anistia prevista no novo Código Florestal, o pecuarista amazônico estava acostumado a operar em um mercado um tanto obscuro. A pecuária amazônica, infelizmente e salvo algumas exceções, sempre esteve associada a praticas produtivas consideradas primitivas em todos os sentidos.

No entanto, se a força política que a atividade da pecuária possui na Amazônia, considerada uma das mais importantes perdendo somente para a produção de soja, foi suficiente para equacionar os constantes problemas criados pela combinação entre uma legislação ambiental rígida abrandada por uma atuação pífia dos órgãos de controle ambiental, o mesmo não se aplicará com esse novo, independente e temido inimigo: o próprio mercado.

Os pecuaristas expulsos do mercado dos grandes frigoríficos ainda poderão contar, por enquanto, com os médios compradores de carne, com atuação no mercado regional. Mas não por muito tempo, pois os médios também estão na mira do acordo comercial com os ambientalistas e o Ministério Público.

Restará somente, ao pecuarista de atuação limitada, os milhares de açougueiros que abastecem municípios no interior da Amazônia. Um mercado restrito com capacidade igualmente restrita para absorver a produção atual de carne de boi.

Restringir a pecuária da Amazônia ao açougue da esquina foi a ação mais inteligente no sentido de coibir a atividade. Dessa vez os ambientalistas venceram.

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