A economia é uma ciência humana. Como tal, depende das decisões humanas, que sempre guardam algum grau de imprevisibilidade. Sob essa perspectiva, é até possível supor que, em algum momento da história econômica de algum produto florestal, o mercado ilegal tenha se aproveitado do mercado legal para se expandir.

Apenas sob tal perspectiva, vale dizer, apenas na hipótese de se levar em conta uma probabilidade ínfima, essa premissa – que o mercado ilegal se vale do legal – pode ser considerada. Algumas variáveis relacionadas à viabilidade ou inviabilidade dos empreendimentos podem ajudar a elucidar a questão, senão vejamos.

Tome-se o exemplo do manejo de animais silvestres, cujo licenciamento é sempre dificultado, ante o argumento de que a regularização da atividade favoreceria o comércio clandestino desses animais.

Seja sob o sistema intensivo (quando os animais são criados em cativeiro), seja sob o sistema semiextensivo (o manejo é feito no próprio habitat florestal), é altamente improvável que a produção manejada apresente um preço final, por animal a ser vendido, superior ao cobrado pelo animal ilegalmente caçado ou capturado na floresta.

A primeira variável a ser analisada diz respeito às condições de oferta. Embora se imagine que uma atividade como a caça ilegal não tenha custo, o fato é que as condições de oferta dos animais silvestres sempre serão mais vantajosas para a produção manejada.

O plantel de animais presentes no criatório (convencional ou natural) permite ao produtor planejar o abate e a oferta de maneira duradoura e constante, no médio e no longo prazo. Inversamente, a imprevisibilidade de uma oferta procedente da ação de caçadores traz um elevadíssimo grau de incerteza para o negócio. Além dos contingenciamentos relativos à atividade em si (todos sabem que num dia a caça é boa e em outros três dias não presta), há ainda os riscos decorrentes da ilicitude.

Dessa forma, no médio prazo os custos da caça serão mais elevados do que os da produção regular em criatórios. Não fosse assim, a humanidade estaria, até hoje, caçando boi e porco no mato para comer.

A superioridade da atividade legalizada também se verifica em relação à segunda variável – condições de demanda. Seja no segmento de alimentação, seja no de animais de estimação (papagaios, araras, jabutis etc.), não se pode imaginar que as condições de demanda sejam piores para a produção oriunda do manejo licenciado do que para os frutos da caça ilegal.

Ora, dizer o contrário é o mesmo que admitir que a maioria dos consumidores prefere expor seu bem-estar, sua segurança e sua liberdade a comprar um produto com as necessárias garantias e salvaguardas, sem pôr em perigo a sua saúde e sem a ameaça de sofrer os agravos e constrangimentos impostos pela legislação a quem se aventura no mercado negro.

É evidente que a demanda pelos produtos inspecionados oferecidos em lojas de animais (os ditos PET shops) e nas prateleiras de supermercados e estabelecimentos especializados será sempre maior que a demanda pelos bichos, vivos ou mortos, comercializados de maneira furtiva por baixo das lonas das bancas de feiras, escondidos em sacos plásticos sujos e fétidos, sob precárias condições sanitárias.

Por fim, não há como esperar que a tendência de consolidação de um segmento econômico ancorado nas técnicas de manejo florestal – que possibilita uma oferta segura e permanente de um produto cuja qualidade se amplia à medida que o segmento econômico se estabelece – seja inferior à tendência de uma oferta proveniente de uma atividade irregular e arriscada.

A solução para que os animais silvestres amazônicos tenham valor econômico e não corram risco de extinção está no mercado legalizado, mas poucos querem ver.

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