O manejo de fauna realizado no interior da floresta, para produção de carnes e derivados de animais silvestres, das espécies nativas da Amazônia transformou-se em verdadeiro tabu. Fruto de um entrave normativo antigo, que remonta a década de 1960, o manejo não conseguiu se estabelecer e cedeu, paulatinamente, lugar às operações irregulares inseridas no denominado mercado negro.

Uma contradição sem precedentes levou os responsáveis pelo processo de licenciamento a confundir manejo de fauna, em ambiente natural, com a caça, que é proibida por lei. Ocorre que a caça é definida no dispositivo legal como perseguição, abate e apanha de animais. E para os licenciadores o manejo de fauna, ao precisar realizar todas essas atividades se enquadraria como caça.

Sem dúvida, um equívoco originado da pequena compreensão acerca das técnicas de manejo e fruto de uma época, na qual os sistemas tecnológicos para manejo da fauna silvestre ainda não haviam sido devidamente concebidos. Atualmente, não há razões, a não ser as de ordem psicológica e ideológica, para que tal equívoco se perpetue.

Todavia, em 2006, algo de novo aconteceu. O Subprograma de Políticas de Recursos Naturais, vinculado ao Programa Piloto, conhecido como PPG7, em uma atitude ousada organizou um Seminário Nacional para elaboração de uma Política Nacional para Manejo da Fauna Silvestre. O evento assumiu como foco a possibilidade de se estabelecer uma política específica para o manejo de fauna silvestre, manejo esse a ser realizado no interior do próprio ecossistema florestal.

Os participantes, selecionados de acordo com seu envolvimento com o tema da fauna e distribuídos em grupos de afinidade (quatro grupos no total: base técnica, instrumentos legais, instrumentos econômicos e instrumentos administrativos), foram unânimes em afirmar a importância econômica que esse produto florestal possui para regiões como a Amazônia e a tragédia eminente, que o impasse normativo traria para conservação dessas espécies.

Ou seja, para todos os presentes, a fauna silvestre tem um potencial de mercado incomensurável, mas a falta de consenso quanto à legalidade do manejo silvestre e a incompreensível liberação para caça de subsistência criavam o meio de cultura propício, para levar as espécies à condição de elevado risco de extinção. Apesar dessas importantes conclusões, até o momento o manejo extensivo de fauna continua sem perspectiva.

Os resultados do seminário ficaram registrados em um livro recentemente publicado sob a chancela das Edições Ibama. Um material rico em experiências e que deve interessar a todos os envolvidos com o tema.

Ao folhear o livro, a conclusão, fácil de compreender, é que na ausência de empecilhos técnicos o manejo de fauna silvestre emperra em entraves burocráticos ridículos.

Não há dúvidas quanto à importância econômica de animais silvestres, como a paca, a queixada, a capivara e o catetu. Incluir a carne, couro e outros derivados dessas espécies no manejo florestal de uso múltiplo, uma tecnologia concebida e elaborada no Acre, pode fazer com que a produtividade florestal seja duplicada.

Com o manejo da fauna silvestre, o ecossistema florestal ganha competitividade frente à pecuária, a cana, a soja e assim por diante.

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