A concepção e gestão de ações voltadas à melhoria das condições de vida das comunidades é tema principal das políticas públicas. Até bem pouco tempo, essas políticas eram discutidas nos gabinetes das autoridades e, após acordadas entre eles, colocadas em prática em algum lugar, junto aos chamados beneficiários.

Todavia, a partir do início da década de 1990, com o fantasma do autoritarismo militar afastado para sempre, as comunidades, ao receberem as ações de políticas públicas, não queriam ser apenas beneficiários e sim co-responsáveis por seu projeto e pela sua execução.

Um Projeto Participativo ganharia expressão no país e na Amazônia. Órgãos públicos, entidades do terceiro setor e até as empresas tiveram que assimilar o ideal do Projeto Participativo, como referência principal para o trabalho social e comunitário.

As universidades e centros de investigação também não ficaram imunes ao Projeto Participativo. A academia, como costuma ocorrer, deslumbrou-se com a descoberta das comunidades e suas lideranças de toda ordem. Seringueiros, trabalhadores rurais, pescadores, castanheiros e outros no meio rural, em conjunto com os novos atores urbanos como os catadores de lixo, moradores de favela, sem teto e assim por diante, transformaram-se em elementos chave, ícones na linguagem acadêmica, para desvendar o Projeto Participativo.

Ações de inspiração comunitária, que visavam o bem da coletividade teriam que ser discutidas, avaliadas e, na grande maioria das vezes, aceitas ou não, pelas próprias comunidades. Algo de novo surgia ao se valorizar a vivência das pessoas associadas à qualificação dos técnicos e cientistas. Uma complementaridade de saberes colocada a serviço do bem comum.

Mas, infelizmente não foi bem assim. Se, de um lado, os técnicos, sobretudo os extensionistas florestais habituados ao contato diário com a vida no seringal, e conhecedores dos limites existentes nas comunidades, recebiam o Projeto Participativo com interesse, mas com ressalvas; de outro, os gestores públicos e de agencias de cooperação, aqueles que decidem sobre a aprovação ou não de um projeto, acreditavam na valorização do conhecimento empírico das comunidades em detrimento do técnico.

Ao pender a balança para um suposto superior domínio da realidade pelas comunidades, o Projeto Participativo seria colocado em risco. Se a comunidade tem pleno domínio sobre seu território e acerca de suas demandas, ela não erraria nas tomadas de decisões. E isso foi o que mais ocorreu. Em particular com relação a um ponto crucial no interior do seringal: a decisão sobre o que se deve produzir.

Ocorre que apesar dos esforços realizados pela sociologia para vencer o desafio de criar metodologias que captassem, com o máximo de precisão, a vontade das populações, a expressão dessa vontade dependia de capacidades alheias às comunidades. Os limites, que os extensionistas conheciam, se concretizavam na carência de informações fundamentais para se unir à experiência vivenciada.

Faltava o que os financiadores de projetos iriam perceber mais tarde, após vários e repetidos fracassos, preparar as comunidades para decidirem sobre seu destino. Sobretudo quando esse destino estava vinculado ao destino do próprio seringal (da floresta) na Amazônia.

As comunidades teriam que, em primeiro lugar, passar por um amplo programa de qualificação. Treinamentos e cursos de toda ordem seriam fundamentais para preparar as comunidades e deixá-las em condições de elaborar melhor suas reivindicações.

A experiência provou que o Projeto Participativo na Amazônia não poderia ser construído com aquele avexamento da década de 1990.

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