Nunca é demais repetir. O desmatamento no Acre, medido pelo conceituado Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), subiu 47% no período entre agosto de 2015 e julho de 2016 – o que representa a maior destruição de florestas em terras estaduais desde 2007.

O diagnóstico dos impactos ecológicos causados por essa destruição tem ocupado os pesquisadores envolvidos com o tema, e a preocupação se volta para o que indica a curva do desmatamento: há risco de ocorrência de novo ciclo, com taxas recordes, como as observadas em 1995 e 2004.

No caso específico do Acre, as implicações morais resultantes da destruição florestal decerto são tão preocupantes quanto as ambientais.

Nesse ponto, cabe uma breve retrospectiva.

Durante a década de 1980, a região amazônica como um todo e o Acre em particular foram palco de intensos debates acerca do uso e desuso dos recursos presentes na biodiversidade.

De um lado, os pecuaristas e seus partidários defendiam a ampliação das terras disponíveis para a criação de gado; de outro, uns poucos abnegados começavam a chamar a atenção para a possibilidade de uma ocupação produtiva baseada no uso econômico da biodiversidade florestal da região.

Em oposição aos majoritários pecuaristas formou-se, no Acre, um amplo grupo, caracterizado por elevada heterogeneidade e que, sem distinção de classe social, congregava basicamente todos os que eram contra a criação de boi em grandes propriedades, o desmatamento da floresta, a queima das árvores.

Fazendo uso de um discurso conservacionista que mesclou aos ideais ambientalistas o enfoque desenvolvimentista da produção florestal (ou seja, aliou os que defendiam a intocabilidade da floresta aos que eram a favor do uso econômico da biodiversidade), uma força política chegou ao poder trazendo um apelo moral repleto de grandes esperanças.

Apelo que, embora pleno de contradições internas, teria no combate ao desmatamento sua espinha dorsal. E ainda que se identificasse por um viés esquerdista, sob a ótica peculiar de então equivalia a afirmar o seguinte: cabe tudo, pode tudo, exceto mais desmatamento.

Durante a década de 1990 e 2000, o Acre deitou em sua fama: era o mais ambientalista entre todos os estados da Amazônia.

O mantra “no Acre é diferente” foi repassado aos gabinetes em Brasília e ganhou expressão mundial, sempre apoiado nos mártires forjados pelo combate à grande propriedade pecuarista e ao desmatamento da floresta.

Lema que exprimia um sentimento de apego à região, valorizava o recurso florestal e, acima de tudo, manifestava o compromisso moral de não aumentar a destruição da floresta.

São as implicações morais que devem ser justificadas quando, em 2016, o Acre bate recordes mensais e sucessivos de queimadas, terminando o ano com uma taxa de desmatamento de 47%, a maior desde 2007.

É imoral que, para fora, aos ouvintes estrangeiros, continue o discurso verde em defesa da floresta, enquanto para dentro, em âmbito interno, prevaleça o incentivo à criação de boi.

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